ISABEL MEIRELLES

imeirellesAS BODAS DE PRATA DA QUEDA DO MURO DE BERLIM

Há 25 anos, em novembro de 1989, deu-se a queda do Muro de Berlim, quase como que por acaso, quando o então governo da RDA anunciou que todos os alemães podiam visitar a Alemanha Ocidental. Contudo, os motivos mais profundos que possibilitaram a derrocada do muro vieram do lado soviético com a queda dos preços do petróleo mundial, o que originou que esta matéria-prima ficasse mais cara, impossibilitando a continuação do apoio e sustento aos Estados satélites e à guerra tecnológica e do bem-estar com os Estados Unidos. Chernobyl tornou-se mesmo o símbolo da decadência da ex-URSS. O ano seguinte marcou, de uma forma demasiado apressada, a reunificação alemã, que muitos temiam por razões históricas sustentadas em duas guerras mundiais que varreram a Europa e a destruíram económica e moralmente. Os protagonistas desta reunificação foram dois estadistas, Helmut Khol e François Mitterrand, que trocaram uma nova harmonia alemã pelo aprofundamento do projeto europeu, designadamente através da União Económica e Monetária e, consequentemente, de uma moeda única. Porém, esta unidade alemã não teve no seu reverso, como se tem vindo a constatar, uma maior unidade europeia. Esta reunificação custou 2 biliões de transferências sociais que, contudo, não conseguiram, até hoje, colocar ao mesmo nível os dois lados do país. Assim, por exemplo, o Leste da Alemanha em relação à parte ocidental aufere apenas 66% do PIB per capita e tem uma taxa de 10,3% de desemprego contra 6% do lado ocidental. Noutra vertente, a superação das diferenças está longe de acontecer, com falências de empresas no Leste, habituado a um sistema protetor do Estado e pouco preparado para o empreendedorismo, fuga em massa dos jovens à procura de melhores condições de vida e de emprego para o lado ocidental, maior poluição em termos ambientais, hostilidade aos emigrantes, saudosismo do antigo regime centralizado, que marca ainda hoje uma franja significativa do sistema educativo e onde, curiosamente, se verificou nas últimas eleições a ascensão de um novo partido neonazi. Porém, com a reunificação e apesar das diferenças de desenvolvimento entre a parte ocidental e oriental, o facto é que se ergueram outros muros invisíveis, desta feita entre os Estados europeus e uma Alemanha demasiado hegemónica no processo decisório da União. Pela terceira vez na história recente do século passado e da atualidade, vemos um Estado renascido, prosseguindo primacialmente os seus interesses domésticos, com o lema de que “o que é bom para a Alemanha é bom para a Europa”. Esperemos que até às bodas de ouro da queda do muro da vergonha se redirecionem as políticas germânicas, interna e externamente, e que se possa afirmar então que estar na Alemanha é como estar no coração de uma Europa unida, próspera e de paz.