QUEM É O PRÓXIMO PRESIDENTE DA COMISSÃO EUROPEIA?
Algo que, genericamente, se desconhece sobre Jean-Claude Juncker é que o cargo de presidente da Comissão Europeia já lhe tinha sido oferecido quando era primeiro-ministro do Luxemburgo em 2004, e que ele declinou porque quis cumprir o seu mandato até ao final, algo que já diz muito sobre o seu carácter e sentido de dever. Reputada como o cargo mais difícil do mundo, a presidência da Comissão, com mais de 30 mil funcionários, gere interesses fundamentais como os fundos comunitários ou a apresentação de novas propostas legislativas, e quase sempre serve como culpada, e suspeita do costume, dos desaires nacionais. Juncker, com 59 anos, tem uma vasta vida política, não só nacional, enquanto ministro do Trabalho, das Finanças e chefe do Governo do seu país, mas também internacional, como presidente do Eurogrupo e, sobretudo, no papel de conciliador entre a França e a Alemanha desde os tempos de Kohl e de Mitterrand e do Muro de Berlim. É talvez o último político europeu a quem se pode atribuir o epíteto de continuador do espírito dos países fundadores da Europa e que se propõe, de novo, pôr a Europa a sonhar, sob pena de a próxima geração de políticos ter esquecido quem são Hitler e Estaline e já não ter força para operar esta mudança. Com este espírito repleto de essências federalistas, os britânicos, sempre iguais a si próprios, opuseram-se a esta escolha, mas desta feita com uma violência inusitada, apenas explicável pelo facto de Cameron estar cada vez mais cercado pelos eurocéticos, designadamente do UKIP, que ganharam as últimas eleições europeias e na perspetiva de terem, em breve, um referendo que vai decidir se o Reino Unido permanece, ou não, na União Europeia. Porém, desta feita, o Estado eurocético de serviço não conseguiu vetar, como tinha feito durante 20 anos, o nome de Juncker, até porque com a alteração dos Tratados a escolha no Conselho Europeu apenas requer uma maioria qualificada. Curiosamente, também foi este ataque cerrado que levou uma Merkel, inicialmente hesitante, mas empurrada pela imprensa nacional, a tal apoio, dado que este luxemburguês é um moderado e é considerado o “mais social-democrata dos democratas cristãos”. E o facto de o seu país estar encravado entre dois grandes vizinhos deu-lhe um conhecimento profundo da história, da sensibilidade e da língua destes Estados fundadores e âncoras da construção europeia. Quanto a Portugal, Juncker cresceu rodeado de portugueses na parte industrial do Luxemburgo e conhece bem a realidade do nosso país e as dificuldades com que se debate, tendo, inclusive, lutado contra a redução do salário mínimo nacional, não se inibindo de, frontalmente, criticar a Alemanha pela obsessiva austeridade imposta nos tempos da troika. Assim, há uma réstia de esperança de que Jean-Claude Juncker, de perfil baixo e moderado, possa fazer renascer aquela ideia da Europa sonhada das cinzas de duas guerras mundiais, finalmente, como um gigante económico, e quiçá político, a nível global.