Numa altura em que há sinais de retoma e de alívio na economia nacional, começa também a existir espaço para refletir sobre uma visão mais aprofundada e menos circunstancial das crises da dívida soberana e da zona euro. Com efeito, constata-se que em Portugal, e na maioria dos Estados da zona euro, a dívida pública nunca será paga, pelo menos de acordo com as exigências que atualmente são impostas pelas instituições da União como a Comissão Europeia e o BCE, já sem falar do FMI. O erro de raciocínio está no facto de se considerar que os países da zona euro são todos iguais e que a receita que se aplica a um Estado rico e desenvolvido se pode transpor para outros completamente diferentes sob todos os aspetos, não apenas económico e financeiro, mas também social e cultural. De resto, se o projeto da União Europeia pretende ser mais integrador e federador, então temos de seguir modelos de Estados federais como o Brasil ou os Estados Unidos ou mesmo a Alemanha. Na Constituição desta, por exemplo, refere-se que os estados membros com orçamentos excedentários devem contribuir de maneira adequada “para a defesa contra as perturbações do equilíbrio geral da economia e/ou para compensar a força económica diferenciada no território federal e/ou a favorecer o crescimento económico”. Reconhece-se aqui, sabiamente, que a imposição das mesmas regras unitárias é incapaz de gerar ganhos que cubram as despesas, algumas inevitáveis, trilhando-se, assim, um caminho de empobrecimento e mesmo de destruição, e que um dos meios de o contrariar é a solidariedade entre regiões. Nesta senda, uma das medidas corretivas que poderiam ser aplicadas na zona euro seria a desvalorização da moeda única até uma paridade que pudesse assegurar a competitividade das empresas e dos seus produtos, permitindo a recuperação rápida das economias. Talvez isto não tenha acontecido ainda porque nos países ricos da zona euro, como a Alemanha, os produtos são de tal modo tecnológica e qualitativamente tão diferentes, que não têm concorrência e beneficiam de uma procura rígida, independentemente do preço e da taxa de câmbio. A desvalorização do euro até valores que permitissem que a maior parte dos produtos da zona euro fosse concorrencial a nível do comércio mundial, teria por efeito aumentar as exportações e reduzir as importações naquela zona, o que provocaria um aumento enorme da atividade comercial em todos os países e nos PIB’s respetivos, bem como o ressurgimento de certas indústrias que deixaram de ter viabilidade competitiva devido a um euro sobreavaliado. Esta solução, que devia ser conduzida pelo BCE como timoneiro de uma política que conduza ao crescimento, à convergência e à consolidação das economias dos Estados-membros em crise, teria como consequência um futuro muito mais promissor do que aquele que prognostica as atuais políticas de catástrofe e de incoerência dos Estados-membros da zona euro.