TURISMO E A INDÚSTRIA DO SORRISO
Portugal assiste de forma quase eufórica, e com um sorriso rasgado, ao reerguer de alguns setores de atividade como a indústria do turismo, que representa já 13% das exportações portuguesas e 5,2% do Produto Interno Bruto Nacional. Contudo, para que o crescimento e o entusiasmo sejam sustentados, há que pensar esta indústria de forma estratégica, apoiar as suas PME e, sobretudo, agilizar procedimentos por parte das entidades responsáveis pela sua regulação, genericamente caraterizadas como burocráticas, lentas e, por vezes, como sendo um verdadeiro entrave ao desenvolvimento da livre iniciativa dos particulares. É necessário pensar o turismo em Portugal por zonas geográficas, mas também como segmentos especializados do turismo de sol e mar, de negócios, do golfe, de natureza, náutico, de saúde, médico, religioso, gastronómico, de cruzeiros ou mesmo de estágios para atletas de alta competição. Este pensamento estratégico é tão mais necessário, porquanto o ano de 2013 trouxe ao nosso país cerca de 10 milhões de turistas, mais que a população residente no seu conjunto, muito por causa da instabilidade política dos países do Magreb e do Norte de África em particular, embora concorrendo com destinos com preços altamente competitivos, como as Caraíbas, alguns países asiáticos e com os Emirados Árabes Unidos. Há também que ter em conta os BRIC, que representam 17% do valor turístico a nível global – sendo, neste momento, a China o maior emissor de turismo, que ultrapassou mesmo a Alemanha – e têm gostos próprios, sem contar com outros menos tradicionais, como os turistas brasileiros, angolanos e russos, que, devido ao aumento significativo do seu poder de compra, viajam bastante mais. Ou seja, há que adaptar a oferta do nosso país aos gostos e expetativas destes visitantes. A nível das estruturas, é urgente a qualificação e rejuvenescimento dos profissionais de turismo e fazer fortes investimentos nas redes digitais, considerando que atualmente a marcação de viagens já se faz 54% das vezes através da Internet e cada vez menos através dos operadores do ramo, apostando na investigação e desenvolvimento nestes domínios e na disseminação das melhores práticas, através do chamado benchmarking. Por outro lado, as razões apresentadas para viajar são em 71% dos casos férias, em 16% os negócios e nos restantes 13% são invocados motivos vários. Ou seja, há que apostar mais fortemente no turismo de negócios, que se encontra em franca expansão, considerando que Portugal é, neste âmbito, o 10.º destino a nível mundial e Lisboa a 10.ª capital europeia de destino. Exemplo bem-sucedido foi a Convenção Mundial do Rotary, que o ano passado esgotou por completo toda a capacidade hoteleira na cidade de Lisboa e respetiva área metropolitana. O orçamento de despesa do próprio evento, incluindo a construção de um sistema de transportes, produção de sessões plenárias, oradores e custos de locação dos espaços, ascendeu a 9 milhões de euros, e o impacto da despesa da Convenção foi de 125 milhões de euros, considerando todo o período pré, durante e pós-convenção com uma participação registada de 25 mil pessoas. Contudo, este magno evento sofreu muitas dificuldades de percurso, nomeadamente teve um apoio muito difícil por parte do Turismo de Portugal e do Turismo de Lisboa, tendo sido precisos três anos para assinar um contrato de incentivos. Por causa desta delonga, o evento quase que não se realizava em Portugal! Há, pois, para que possamos continuar a sorrir, que apostar fortemente em eliminar constrangimentos deste tipo e reforçar as enormes potencialidades desta indústria onde o lazer se pode confundir, lucrativamente, com o trabalho.