A Bélgica é a capital política da União Europeia e alberga várias outras sedes de organizações internacionais, pese embora o facto de ser um pequeno país com cerca de 10,7 milhões de habitantes, dividido entre Valões e Flamengos, cada vez mais dissociados pela língua, pela economia, pela política e por uma animosidade crescente. Com efeito, foi esta rivalidade que provocou várias crises políticas, as mais graves das quais em 2007 e em 2010-2011, esta última que deixou o país 541 dias com um executivo de gestão e que bateu mesmo o recorde do Iraque, como o Estado no mundo há mais tempo sem governo. Porém, a intervenção determinada de Alberto II, Rei dos Belgas, conseguiu manter a integridade do território, a unidade e independência do país, ameaçadas, designadamente, por partidos separatistas como o da Nova Aliança Flamenga, que nas últimas eleições se revelou a segunda força política da Flandres. A ação de Alberto II pautou-se pela perseverança e pela forma hábil como conseguiu manter-se como traço de unidade nacional, designadamente em situações delicadas e suscetíveis de aproveitamento político, como foi o caso Marc Dutroux, o pedófilo belga que matou e estuprou várias crianças e adolescentes, tendo o rei recebido todas as famílias das vítimas para lhes apresentar condolências. Curiosamente, Alberto II não estava na linha da sucessão, mas devido à morte súbita do seu irmão, o rei Balduíno, ficou à frente deste Estado conhecido por ser um enorme campo de batalha, designadamente nas duas últimas guerras mundiais, que também marcaram a infância e juventude deste monarca que, com a família, viveu exilado na Suíça. O seu reinado, que durou apenas 20 anos, viu o seu final no dia 21 de julho, dia nacional da Bélgica, por ter decidido abdicar, em virtude de questões de saúde, em favor do seu filho Filipe, duque de Brabante, que aos 53 anos herda um país dividido e que pode ter a sua primeira prova de fogo já nas eleições de maio do próximo ano. Com efeito, é enorme a tarefa que espera este novo monarca, sendo que os seus poderes são limitados e a instituição da monarquia pouco bem vista por amplos setores flamengos, embora o rei esteja interditado de, publicamente, exprimir as suas convicções ideológicas, religiosas e outras, estando inclusive proibido de votar, num país onde o voto é obrigatório. A Bélgica e toda a Europa, incluindo o projeto de união europeia, precisam que Filipe e a sua mulher, ela própria oriunda da nobreza belga, estejam à altura de manter a coesão e a integridade nacionais, sob pena de se poder gerar, também noutros países, rastilhos separatistas e trazer de novo instabilidade ao Velho Continente. Desejamos, assim, ao novo Rei dos Belgas – e não ao Rei da Bélgica, porque é monarca de uma sociedade e não de um território, não tendo, por isso, nenhum atributo de poder como a coroa ou o cetro –, longa vida e muita sabedoria, pelo menos tanta quanto a do seu pai, na condução dos destinos do seu povo.