O défice alimentar de Portugal tem vindo a reduzir-se, designadamente entre 2011 e 2012, tendo passado de 4,5 mil milhões para 3,9 mil milhões de euros. Esta situação que, nos segmentos agroalimentar, pescas e produtos florestais, tem contribuído para diminuir a nossa dependência do exterior e aumentar, em consequência, a autossuficiência alimentar do nosso país, onde se assiste a um epifenómeno de quase pleno emprego, é uma magna questão de orientação dos nossos interesses estratégicos em caso de tempos mais difíceis como os que passámos nos anos durante e pós Segunda Guerra Mundial. O aumento das exportações contribuiu para esta inversão, bem como a quebra nas importações e o abrandamento do consumo interno das famílias, devido à diminuição do seu rendimento disponível. Também o ressurgimento da atividade agroalimentar, protagonizada, desta feita, em moldes tecnológicos e de gestão mais avançados por investidores vindos, inclusive, dos setores secundário e sobretudo terciário, com projetos bem-sucedidos e rentáveis, tem criado oportunidades promissoras num domínio que estava em declínio e era visto com pouca rentabilidade financeira. Exemplo disso são os nichos de mercado, designadamente no setor vitivinícola, cada vez mais apurados por enólogos de nova geração que têm uma relação de tal modo equilibrada entre qualidade e preço que acabam por ser absorvidos pelo mercado nacional ou, quando têm dimensão exportadora, raras vezes têm dificuldades de escoamento dos seus produtos. Curioso é também o fenómeno novo, sociologicamente sub-reptício e silencioso, da vontade de adquirir o que é nacional e que provocou uma adesão e procura dos produtos portugueses em geral, e alimentares em particular, que raramente se verificou como perceção de que, ao adquirirmos o que era fabricado em Portugal, estamos a contribuir para o progresso do país, a manutenção ou mesmo criação de postos de trabalho e a sustentabilidade do setor primário nacional. Esta regra da discriminação e função da nacionalidade dos produtos, que até há pouco tempo a União Europeia considerou um pecado capital da livre circulação e do mercado comum, foi esquecida perante as dificuldades atuais sentidas pelos seus Estados-membros. Também a reforma da Política Agrícola Comum, que chegou a consumir 70% do orçamento comunitário, contribui para diminuir a dependência das ajudas e subsídios do FEOGA, bem como o desincentivo à produção e ao abate de barcos no caso das pescas. Esta reorientação é de saudar porque demonstra que os portugueses conseguem em tempos difíceis, lúcida e decididamente, reorientar os seus interesses, de forma independente, sem necessidade de qualquer protetorado do Estado ou da União Europeia.