A conferência de imprensa de François Hollande, que coincidiu com o aniversário do seu primeiro ano de mandato, marcou, enfim, o abandono da sua política da cadeira vazia, nome dado a uma famosa crise dos anos 60, protagonizada por De Gaulle, quando este proibiu os representantes da França, durante cerca de meio ano, de estarem presentes nas reuniões das instituições comunitárias, em especial na do Conselho de Ministros. Hollande pretendeu no seu discurso, entre outros objetivos, amarrar, de forma ardilosa, a Alemanha de Merkel à concretização da sua recente proposta de uma União Política, na altura muito criticada por se demonstrar vazia de conteúdo. Isto mesmo o chefe de Estado francês ambicionou definir, os contornos vagos dessa união, apelidando-a de uma nova etapa da integração europeia, em que os eixos essenciais seriam um governo económico para a zona euro, o combate ao desemprego jovem com a utilização de 6 mil milhões de euros de fundos comunitários, um mercado comum e mais integrado das energias renováveis, criação de novas indústrias e sistemas de comunicação, em suma algo que invertesse a depressão em que a maioria dos países da Europa está, perigosamente, a cair e, por arrastamento, os gauleses. Porém estas propostas são muito pouco inovadoras, dado que já tinham sido quase todas apresentadas pelo seu antecessor Sarkozy e merecido uma reação da capital germânica. Antes de mais, pretende-se a criação de um governo económico que, para além de ter um presidente a tempo inteiro, seja dotado de um orçamento próprio, capaz de fazer face aos choques assimétricos que têm assolado a zona euro. Ora, sabemos que isto arrasta, de forma quase inevitável, um outro passo, que é a mutualização da dívida, já tentada com os Eurobonds, mas que os alemães rejeitam vigorosamente, até porque não querem ser fiadores das dívidas dos Estados em dificuldades. O governo económico da zona euro teria também como ambição a convergência das políticas sociais e económicas e, sobretudo, a harmonização das políticas orçamentais e fiscais. Só para se perceber o irrealismo desta última proposta da harmonização fiscal, basta pensar que são as taxas, os impostos e todas as outras imposições fiscais que alimentam um dos poucos redutos de soberania que restam e que são essenciais para alimentar os orçamentos nacionais. Também a harmonização ao nível, por exemplo do IRC, dificilmente seria aceite porquanto é aqui que se procede à competitividade entre empresas e Estados, sendo que no nível legal tal alteração será, pelo menos por agora, quase impossível de atingir, dado que a unanimidade no âmbito desta política confere a cada Estado um verdadeiro direito de veto. Em suma, Hollande, na sua aproximação e contribuição para o projeto de União Europeia, apresentou ideias antigas e metas irrealistas, não conseguindo imprimir frescura ao impulso europeu a demonstrar que se precisa de novos líderes para salvar esta União.