ISABEL MEIRELLES

MARGARET THATCHER: UM GÉNERO FEMININO E MUITO SINGULAR

 

Margaret Thatcher é uma figura controversa, mas incontornável, como todos os grandes líderes que suscitam amores e ódios, tendo ficado conhecida como Dama de Ferro através da frase usada pelo jornalista militar soviético Iuri Gavrilov, no jornal Estrela Vermelha, em janeiro de 1976. Incontornável é o facto de que em 11 anos de governação Thatcher mudou a economia do Reino Unido no sentido de uma doutrina económica neoliberal, em sintonia com Reagan, nos Estados Unidos, e que fez escola até hoje. Procedeu nos anos 80 a um vasto programa de privatizações, à liberalização do setor financeiro, tornando o aparelho do Estado mais magro e menos interventor. A indústria cedeu o lugar aos serviços e à finança, e Londres tornou-se na grande praça económica da Europa. O foco da sua política esteve em levar o país em direção a uma economia de mercado, com redução de impostos, e libertar-se de uma indústria pesada, ultrapassada e pouco rentável, acrescido de um vasto programa de privatizações de empresas públicas. Conseguiu, sobretudo, lutar contra a inflação que grassava no Reino Unido, embora haja, ainda hoje, quem considere que a atual crise que se vive é legado da política de Thatcher. Combateu fortemente os sindicatos, como os dos mineiros, conseguindo com uma pertinácia notável vergá-los às suas políticas liberais, na senda de umas das suas frases emblemáticas, de que tentar curar a doença britânica com socialismo era como tentar curar leucemia com sanguessugas. No plano externo, a sua intransigência revelou-se fundamentalmente na intervenção na Guerra das Malvinas, o que num período difícil aumentou a sua popularidade, conseguindo, na decorrência, a sua primeira reeleição, nunca tendo cedido na  negociação da libertação dos presos políticos, o que lhe valeu mesmo um atentado por parte do IRA. Também na cena europeia das então Comunidades, quando Jacques Delors era o presidente da Comissão, revelou uma visão puramente mercantilista do projeto europeu, tendo-se sempre recusado a avançar na senda de uma união política.  Tendo embora concordado em assinar o Ato Único Europeu que deu origem ao mercado comum, não deixou de tirar dividendos importantes, conseguindo, designadamente, a devolução de parte da contribuição britânica para o orçamento comunitário, o famoso cheque britânico, com a célebre frase “Quero o meu dinheiro de volta!”. A Dama de Ferro marcou dois momentos cruciais, quando assumiu o cargo de primeira-ministra inglesa no ano de 1979, em plena Guerra Fria, e quando deixou o poder político britânico em 1990, já no final da Guerra Fria, após a queda do muro de Berlim. Esta única primeira-ministra britânica, até hoje, deixou com a sua forte personalidade uma impressão digital indelével, no Reino Unido, na Europa e no mundo, chegando a proclamar, como afirmação do seu carácter e da sua vincada feminilidade, que quando se concede à mulher a igualdade com o homem, ela torna-se superior a ele.

Requiescat in pace!