ISABEL MEIRELLES

DESEMPREGO NA UNIÃO

A impropriamente chamada crise do euro, que mais não é que uma crise financeira gerada pelos comportamentos irresponsáveis dos governos que criaram dívidas insustentáveis e não acautelaram com solidez a supervisão bancária e dos operadores financeiros, tem o desemprego como consequência e maior flagelo a nível social. Com efeito, segundo o Eurostat, no final do ano passado o desemprego nos 27 Estados-membros era de 10,7% e na zona euro de 11,8%, totalizando mais de 26 milhões de desempregados, 18% dos quais na zona euro. Os jovens são os mais afetados e correspondem a 23,7% dos desempregados, ou seja, cerca de 5,8 milhões sem trabalho. As causas próximas que são apontadas para estas elevadas taxas residem naquela que já se convencionou chamar de Terceira Revolução Industrial, ou revolução tecnocientífica, como resultado de uma integração entre a ciência e as suas descobertas ao processo produtivo. Como exemplos desta, temos a informática, a microeletrónica, as telecomunicações, a indústria aeroespacial e a biotecnologia. Isto implicou que, por força da velocidade espacial, da integração mundial de sedes, de bancos, bolsas de valores, do transporte em massa de mercadorias e pessoas, as distâncias deixassem de constituir, como até agora, obstáculos à expansão da produção das empresas multinacionais por continentes inteiros. Assim, surgiram novos países industrializados e o capitalismo internacional reestruturou-se através da chamada globalização. Esta pressupôs também a liberalização da economia, com a não interferência do Estado nos entraves comerciais, nos mercados financeiros e de capitais, abstenção que foi responsável pelas crises financeiras globais da década de 1990. Este processo tem sido também apoiado por organizações internacionais como o Fundo Monetário Internacional, a Organização Mundial do Comércio e o Banco Mundial, que pressionam os países mais frágeis a adotar esta desintervenção, sobretudo na área da liberalização dos mercados de capitais. A restruturação atingiu, igualmente, os mercados de trabalho em que o conceito de flexibilidade tomou novos contornos, com o decréscimo dos trabalhadores permanentes e o concomitante aumento do número de trabalhadores temporários, pontuada por maiores desigualdades salariais, em função da estrutura empresarial e das qualificações dos trabalhadores, tendo, por arrasto, as associações representativas destes e os sindicatos perdido muito do seu poder inicial de negociação. Também a criação de tecnologias de ponta melhorou a produtividade do trabalho, o que, em conjunto com o processo de robotização, foi responsável pelo aumento do desemprego, em especial no espaço europeu e ocidental em geral. Para contrariar estas tendências, foi criada ao nível da União Europeia uma série de mecanismos protetores contra a globalização, a crise financeira e o desemprego, designadamente foi dado um passo importante para um Mecanismo Único de Supervisão Bancária, a disponibilidade de compra ilimitada pelo BCE da dívida soberana dos Estados-membros, bem como a operacionalização do Mecanismo Europeu de Estabilidade que, em conjunto com o FEEF, conta com um trilião de dólares, tanto como os fundos do FMI para a comunidade financeira mundial. Isto sem falar em programas específicos como o Fundo Europeu de Ajustamento à Globalização, que apoia, na UE, a reinserção de trabalhadores afetados, sobretudo, por processos de deslocalização de empresas. Em suma, se pode haver esperança de fazer com que o desemprego desça para níveis aceitáveis, é no quadro da União Europeia, até porque ela não sendo a causa da crise pode ser a sua resposta.