FERNANDO SANTO

AS ESTRATÉGIAS DA UNIÃO EUROPEIA E O SEU DECLÍNIO 

Desde o final do século passado, os resultados obtidos com as diferentes estratégias europeias não cumpriram os objetivos. Há muito que a UE vive num mundo desligado da realidade com a qual os cidadãos se confrontam no dia a dia. 

A recente eleição do Presidente dos Estados Unidos da América (EUA) provocou nos países da União Europeia (UE) uma onda de choque resultante, na minha opinião, da perceção que resultou das posições que muitos políticos, comentadores e jornalistas transmitiram às populações no ataque ao Presidente eleito e suas consequências. É no mínimo estranho que a esmagadora maioria da população da UE fosse a favor de Kamala Harris e os resultados da eleição tivessem sido em sentido contrário. Alguém anda a confundir o desejo de algumas elites e iluminados, com a vontade do povo, não tendo a comunicação social desempenhado o seu papel, antes pelo contrário, passou a fazer parte do problema, com algumas exceções. 

Mas há muito que a UE vive num mundo desligado da realidade com a qual os cidadãos se confrontam no dia a dia, confundindo o virtual com o real. O problema é que as opções estratégicas da UE desde o final do século passado são um fracasso e o Relatório Draghi veio tornar público os problemas, deixando muitos políticos e os burocratas de Bruxelas incomodados pela divulgação da realidade que obriga a opções difíceis.  

A evolução do processo que nos trouxe até à UE a 27 países é um projeto fantástico que tem como objetivo preservar a paz, e assenta nas políticas com preocupações de desenvolvimento económico, social e ambiental, que fazem desta parte do mundo um lugar único. 

Contudo, para se manter a paz é preciso investir em armamento dissuasor e assegurar a defesa e segurança das populações. Para suportar o Estado Social é preciso crescimento económico, emprego e receitas. Para mitigar os impactos ambientais é preciso tempo para a transição energética e estratégias que tenham em conta as opções dos principais países de outros continentes. 

Como se pode constatar com as diferentes estratégias europeias, desde 1999, os resultados obtidos não cumpriram os objetivos, bem pelo contrário, a defesa nunca fez parte das preocupações, a imigração colocou desafios que não foram equacionados e a estratégia sobre a energia colocou a maior parte dos países dependentes do exterior com perda de competitividade. 

Mas para que esta minha opinião não seja confundida com estados de alma, analisemos as principais estratégias dos últimos 30 anos. A UE vive um problema de competitividade e crescimento desde 1995, quando tinha apenas 15 países.Até à queda do muro de Berlim em 1989, que ditou o fim da Guerra Fria, as economias da CEE e dos EUA cresceramem paralelo, mas a partir de 1995 começou a ser evidente o maior crescimento dos EUA. Em 2005 o índice de crescimento do PIB da UE era de 141 (tomando por base 100 o ano de 1989), enquanto os EUA já estavam em 160 (+13,5%). 

Reforma de Bolonha 

Para tentar inverter a tendência, os países da UE aprovaram em 1999 a Declaração de Bolonha, como reforma do ensino superior, com o objetivo de, entre outros, criar um espaço europeu competitivo e atrativo, com especial enfoque nos jovens e no valor do conhecimento.  

Estratégia de Lisboa 

De seguida, em 2000, foi aprovada a Estratégia de Lisboa, com o objetivo de tornar a UE na economia do conhecimento mais dinâmica e competitiva do mundo, antes de 2010, capaz de garantir um crescimento sustentável com mais e melhores empresas e coesão social. Em 2004 a Comissão Europeia reconhecia o fracasso, e a partir de 2008 a crise do subprime, a que se seguiu a crise financeira, acentuaram esse fracasso, com uma elevada taxa de desemprego jovem.  

Em 2010, não estavam cumpridos os objetivos, e a situação era bem mais negra do que existia em 2000, principalmente para os mais jovens, o que ainda não foi recuperado, pois em 2024 a taxa de desemprego jovem nos EUA é de 9,5%, enquanto na UE é de 14,8%, (+56% do que nos EUA). Quanto aos resultados na aposta no conhecimento, a UE das novas tecnologias quase não existe, quando comparada com os EUA e a China. No rankingdas 22 maiores empresas tecnológicas apenas duas são da UE.  

Estratégia Europa 2020 

Esta estratégia visava assegurar que a recuperação económica da UE, após a crise económica e financeira, para o crescimento económico e criação de emprego e focou-se em cinco objetivos, mas continuando a ignorar a defesa e segurança, a imigração e repetindo as velhas conversas sobre inovação e competitividade, que já haviam falhado e, também falhou. 

A UE em vez de fomentar o investimento optou por aumentar a burocracia, excesso de regulamentação, insuficiente investimento, dificultar todo o tipo de produção, num alinhamento com as restrições dos fundamentalistas ambientais, enquanto comprava na Ásia produtos que não respeitavam as regras europeias, mas eram muito mais baratos. 

O absurdo ficou também à vista quando surgiu a Covid, pois a UE não tinha, nem produzia o essencial para, numa primeira fase, responder à pandemia. Tudo era importado da China.  

O Relatório Draghi aponta várias medidas em sentido inverso ao que têm sido as políticas, mas estima que a UE necessite de investir por ano entre 750.000 e 800.000 milhões de euros. 

Europa Green Deal – Um Compromisso Verde para a Europa 

Entretanto, em 2021 foi lançado mais um conjunto de medidas, com o objetivo de tornar a UE neutra em termos climáticos até 2050, com os resultados que já se estão a verificar na contestação dos agricultores, na indústria automóvel e na perda de competitividade. 

Entretanto, a Agenda Verde, com níveis irrealistas de descarbonização e assente num modelo energético que se tem revelado insustentável, já está a produzir efeitos nefastos na indústria automóvel, principalmente alemã, com fecho de fábricas e a UE a ser invadida por carros elétricos produzidos na China e com preços mais baixos, sendo a resposta a aplicação de taxas alfandegárias, à semelhança do que anunciou o Presidente eleito dos EUA. O crescimento do PIB nos EUA em 2023 foi de 3,1%, enquanto na UE ficou por 0,4%. 

Chegados a este estado de ineficácia, os cidadãos da UE têm razão para estarem preocupados, mas não devia ser com as políticas que vêm de outros continentes, mas com as políticas que nos últimos 30 anos têm sido implementadas e que têm conduzido à perda de rendimentos, pior qualidade de vida e piores expectativas para o futuro. Com a guerra na Ucrânia e a entrada de milhões de imigrantes na UE, sem controlo, a perceção de insegurança agravou-se e os políticos em vez de assumirem a discussão e apresentarem medidas mitigadoras, andam mais preocupados em implementar o wokismo, começando pela igualdade de género, até à limitação da liberdade de expressão que não siga o politicamente correto, mesmo com opções absurdas, fomentando todo o tipo de agendas que provocam conflitos e divisões entre a população. 

A lição das eleições nos EUA e também em alguns países da UE é clara, quando os políticos não tratam do bem-estar do povo e não respeitam a sua cultura, valores e receios, o povo trata de correr com os políticos. É a democracia a funcionar.  

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