FERNANDO SANTO

QUE FUTURO PARA OS MAIS JOVENS? – A recente publicação dos dados provisórios dos Censos de 2021 mostra um país cada vez mais envelhecido, com menos jovens e com perda de população. É a fotografia a preto e branco de um país de sol poente.

Em apenas 10 anos o grupo etário com mais de 65 anos aumentou 20,6%, representando 23,4% da população, com 2,42 milhões de habitantes de um total de 10,34 milhões, enquanto o grupo dos jovens com menos de 14 anos diminuiu 15,3%, sendo apenas 1,33 milhões, correspondente a 12,9% da população residente, que também reduziu 2,1%, situando nos valores aproximados de 2001. Mas Portugal, apesar de ter poucos jovens, é o 5.o país da UE com o desemprego jovem mais elevado, enquanto os países do leste da UE, com diferentes políticas, têm vindo a crescer mais e a criar condições para fixar os mais jovens. Muitos dos imigrantes desses países que se fixaram em Portugal durante a década de 90 do século passado têm regressado aos seus países, pois as perspetivas de vida passaram a ser melhores. Este quadro de envelhecimento e de falta de condições para fixar os jovens é preocupante, pois a agravar-se e sem condições para o país lhes proporcionar uma vida melhor, não há futuro.

FALTA DE ESPERANÇA – Por mais que os responsáveis políticos enunciem os sucessos da sua governação, a realidade impõe-se com a crueza da falta de esperança dos mais jovens, que também pode ser medida nos problemas de desânimo ou depressão que muitos enfrentam. Os dados dos Censos e os seguintes justificam políticas urgentes para promover o aumento da natalidade, adequar o ensino e a formação profissional às necessidades do país, perante a escassez de mão-de-obra especializada, criar empregos melhor remunerados e habitação a preços mais acessíveis. Vejamos a realidade através de alguns indicadores. Enquanto a taxa de desemprego geral foi de 6,1% no último trimestre de 2021, a taxa do desemprego jovem (até aos 24 anos) situou-se em 22,8%, acima da média europeia que atingiu 15,9%.Os trabalhadores jovens com idades entre os 25 e 34 anos viram os seus salários diminuir entre 2010 e 2018, e os licenciados foram os que mais perderam, com uma redução média de 17%, situando-se o salário médio em 818 euros, o que compara com o salário médio mensal de 1219€ da população ativa. Contudo, o número de pessoas com formação elevada tem vindo a crescer, pois 40% dos jovens com idade entre os 25 e os 34 anos são licenciados e mais de 50% da população tem formação igual ou superior ao ensino secundário. Com estes salários como é possível arrendar ou comprar uma habitação nas zonas em que pode existir oferta de emprego e ter a ambição de constituir família?

OPÇÃO DE EMIGRAR – A opção para muitas centenas de milhares foi a emigração. Entre 2011 e 2020 emigraram 991 mil pessoas, das quais 40% entre 2016 e 2020, apesar do discurso político pretender associar essa realidade aos anos da troika, como sendo um problema do passado. De facto, no passado de grande emigração dos portugueses, como foi a década de 60 do século XX, o total de emigrantes foi inferior, totalizando cerca de 65% do que se registou nos últimos 10 anos. Caso tivessem sido criadas condições para Portugal não ser, de novo, um país de emigrantes, a população residente em 2021 poderia ter crescido mais 9% em vez de ter reduzido 2,1%. Por isso, o problema não é apenas de natalidade, é também da incapacidade para fixar os mais jovens ou os que se sentem inconformados com este sistema.Mais uma vez a realidade evidencia a contradição entre as opções políticas de promover, e bem, a crescente formação dos mais jovens e as políticas e o desenvolvimento económico e social que não acompanham o saber e as expectativas dos mesmos. Não é apenas um problema da sustentabilidade da segurança social, uma vez que há 1,8 pessoas com mais de 65 em comparação com os que têm menos de 14 anos, é essencialmente um desafio para mudanças profundas nas políticas e nos modelos de desenvolvimento.Há que repensar o sistema de ensino, apostando num modelo mais dual (teórico e prático), orientado para profissões cada vez mais necessárias e que escasseiam. Há muitos setores ligados à produção industrial com falta de trabalhadores qualificados com formações especializadas e que oferecem salários cada vez mais elevados, perante a dificuldade em ter esse tipo de profissionais. Por outro lado, e para além do abandono escolar, há cada vez mais jovens que não pretendem estudar para obter uma licenciatura, por considerarem não valer o esforço e o investimento.É neste encontro entre o tipo de profissionais que o país necessita e a formação adequada que pode encontrar-se uma parte da solução.

POLÍTICAS PARA OS JOVENS – Há uma frase atribuída a Albert Einstein,“A loucura é querer resultados diferentes fazendo tudo exatamente igual”, que deve ser adaptada às políticas das últimas décadas, pois é preciso rasgar muita ideologia do passado que já demonstrou conduzir a políticas que nos levaram a este estado, sem crescimento económico durante os últimos 20 anos, com uma dívida pública sempre a crescer e sem futuro para os jovens, apesar de serem cada vez menos. Esta preocupante realidade que condiciona o futuro imediato não tem estado ao nível das outras preocupações como seja, as alterações climáticas e a transição energética, com um foco político alimentado pela comunicação social, que promove preocupações alarmantes na população para justificar que Portugal deve ter políticas para estar na linha da frente, pese embora os elevados custos para os cidadãos com crescentes dificuldades económicas.Se dedicássemos às políticas destinadas aos jovens uma parte da atenção, do alarmismo e do investimento que tem sido dedicado às questões do ambiente e da energia, talvez o futuro dos mais jovens pudesse vir a ser construído no nosso país, sem necessidade de emigrarem ou de terem de se conformar com um salário mínimo, até porque as duas preocupações devem estar ligadas. É evidente que nessas políticas destinadas ao futuro dos mais jovens, a habitação deveria estar na linha da frente, talvez copiando o que de melhor se faz na UE, pois quando se trata de sermos bons alunos, todas as matérias são importantes.

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