FERNANDO NEGRÃO

AS FÉRIAS DE AGOSTO

Mais um mês de agosto ficou para trás. Mais umas férias que a maioria gozou aproveitando o calor que o sol nos deu, as brisas de fim de tarde, a descontração diária, o apetite dado pelo melhor peixe do mundo da nossa costa, a disponibilidade para brincar com os outros e em especial os mais pequenos, o tempo para longas conversas sobre coisas sérias e outras menos sérias.

Acerca de conversas de verão, os últimos agostos têm sido “ocupados” pelos políticos que resolveram não fazer a paragem de verão, enchendo-o com iniciativas várias que não só perturbam o sossego do mês, como nos diminuem o espaço de sossego do mês, como nos diminuem o espaço e a liberdade de nós próprios levarmos a cabo as nossas reflexões.

Por isso, aqui fica um pedido aos nossos responsáveis políticos para eles próprios fazerem a pausa de verão e verificarão as vantagens a partir de setembro. Se assim fizerem, a lucidez amentará, a disponibilidade para ouvir será maior e a energia para fazer alargar-se-á.

 Pausa de agosto

É impossível que durante o ano todos nós não tenhamos cometido erros, e uma das razões da pausa de agosto é mesmo para ajuizar o que aconteceu de bom e de menos bom. Para refletir acerca daquilo que pode ser melhorado. Para decidir sobre as nossas ações e as mudanças que queremos levar a cabo. No fundo esse tempo é para todos o momento que devemos aproveitar para sermos melhores, no respeito, na interação e na relação com os outros. É o tempo de cultivar a tolerância, principalmente agora que o mundo atravessa uma guerra que é também religiosa e uma outra que é territorial. Ambas muito mortíferas e assentes na intolerância. Milhares de mortos, entre eles muitas crianças, sinal também de forte desumanidade, cujas responsabilidades cabem a todos os intervenientes por não estabelecerem limites, por não respeitarem a vida humana, por transformarem jovens em assassinos, por piorarem o mundo em que vivemos. É preciso que parem, em nome da decência, da tolerância e do respeito pelos Direitos Humanos.

Rafael Negri Gimenes refere a este respeito: “Propõe-se uma reflexão sociológica sobre a relação entre a guerra e o homem pela ótica de dois fatores que a impulsionam: a natureza humana e o medo; e por um fator que é desencadeado pela guerra: a desilusão. Deverá discutir-se natureza humana e a sua influência na guerra – será que a guerra é algo inerente à natureza humana? –, o medo como fator motriz que está presente e desencadeia a guerra; a guerra como luta pela sobrevivência num ambiente hostil e cercado pelo medo; e por último, como a guerra gera desilusão e nos faz questionar o porquê de tanta destruição, principalmente no século XX onde presenciamos as maiores guerras levadas a cabo pela humanidade.”

Outros grandes problemas que afetam as nossas sociedades é o caso das reformas. É uma bomba-relógio que ameaça deflagrar num futuro próximo. Sem reformas estruturais no sistema da Segurança Social, as gerações vindouras estão condenadas a prolongar a vida ativa muito para além do que previam no início da vida laboral.

Área da saúde

A saúde, no âmbito do Serviço Nacional de Saúde, cujas respostas estão à beira do precipício, que sofre uma sangria de quadros faltando cerca de 5 mil médicos especialistas e pelo menos 15 mil enfermeiros, já que muitos têm optado pela emigração e outros são aliciados em número crescente pelo setor privado. Quem se mantém no SNS queixa-se de fadiga extrema, baixas remunerações e exaustão emocional. Realço a debandada de capital humano. Portugal enfrenta uma fuga de capital humano na área da saúde sem precedentes. Médicos e enfermeiros, sem contar com todos os outros profissionais com aptidões técnicas e conhecimentos na área, estão a emigrar em massa. Como consequência, há casos em que os tempos de espera por uma consulta são de três ou mesmo cinco anos. O mesmo aconteceu nas cirurgias. Do Tribunal de Contas aos médicos, passando pelos próprios dados dos Governos, o retrato do acesso aos cuidados de saúde em Portugal é manifestamente deficitário.

Este e outros problemas, que sentimos todos os dias como quase alheios aos responsáveis políticos, exigem deles reflexão e ação. O mês de agosto é o tempo ideal para abrandar e pensar, resolvendo os problemas na Segurança Social, Saúde, Educação, Justiça, que tão carentes se encontram.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *