A REVOLTA
Sinto os portugueses assustados. Na atividade política que exerço, seja como deputado ou como vereador, cruzo-me com muitas e variadas pessoas, e as conversas acabam por ser na sua grande maioria acerca do país e dos seus males.
Falar do país e dos seus males não será novidade, uma vez que somos por norma pessimistas e gostamos de nos lamentar. E fazemo-lo não só por já se ter tornado quase um hábito, mas também porque esse hábito radica em velhos problemas como a pobreza e o mau funcionamento da Administração Central e Local.
Há alguns meses perdi os documentos do meu carro, o que me levou a ter que resolver o problema com urgência para poder continuar a circular. Para o efeito, dirigi-me ao IMT, Instituto da Mobilidade e dos Transportes. Aí chegado, expliquei a quem estava na portaria ao que ia e recebi como resposta que subisse as escadas e aguardasse. Assim fiz e, juntamente com mais de uma dezena de pessoas, aguardamos três horas. Fiz a experiência de, de vez em quando, ir perguntar se estava demorado e recebia como resposta, de todas as vezes, aconselhado com ar materno/autoritário, que esperasse porque o pessoal era pouco e havia muito que fazer. Nas conversas com os demais que aguardavam, notava-se ainda a queixa resignada, embora nalguns casos já com sinais de revolta. Principalmente, percebia-se que as pessoas já entenderam que o Estado está a deixar as instituições públicas à míngua, não lhes permitindo funcionar.
QUEIXAS CONSTANTES
No dia a dia, nas conversas com pessoas de todas as classes sociais, mais ou menos endinheiradas, as queixas são constantes. É o inventário que não anda e já tem anos que está parado. É o jovem com problemas de saúde mental que não tem qualquer tipo de assistência. É o preço das casas e principalmente a sua inexistência, porque há muitos anos o Estado deixou de construir e de ter uma política para a habitação. É a saúde que todos os dias é notícia sempre por más razões: urgências ou fechadas ou lotadas, com camas nos corredores, para não falar das filas desde as 5/6 horas da madrugada que regressaram aos cuidados de saúde primários. São as escolas sem aulas, porque os professores “revolucionariamente” levam a cabo greves intermináveis e o Governo, perdido, perdeu a capacidade de negociar.
E tanto mais com que todos nos deparamos e só confirma que o Estado está “ao Deus dará”, complicando-nos a vida e não deixando que as empresas e o próprio país criem riqueza de modo a melhorar as condições de vida de todos.
APOIOS ANUNCIADOS
Todos tomámos conhecimento do que aconteceu com o apoio anunciado pelo Governo para as rendas a pagar que, fruto de várias circunstâncias, têm subido de forma considerável. Todos percebemos que o Governo anunciou apoios em determinados montantes que, após melhor atenção e no momento da sua distribuição, afinal andariam pela metade do inicialmente prometido. Quando isto acontece já ao nível do próprio Governo, está tudo dito, ou seja, o caminho que está a ser prosseguido não é o da solução dos problemas, mas sim o do desleixo até à ausência dos problemas dos portugueses. Em França, embora com uma tradição de revolta já antiga e sempre agressiva, as ruas têm estado cheias de revoltosos, sendo uns por boas e outros por más razões. No nosso país, a revolta já se vai fazendo sentir, havendo cada vez mais pessoas que nada têm a perder. A prioridade para todos nós está ainda nos instrumentos que o Estado de Direito nos dá. É preciso dar-lhes uso, porque assim não podemos continuar!