FERNANDO NEGRÃO

A GUERRA – Após a crise pandémica, vivemos agora mais uma crise. Tudo, porque a Rússia, sem motivo plausível, invadiu a Ucrânia e começou uma guerra na Europa.

O Banco Central Europeu (BCE) tem por missão assegurar a estabilidade de preços nesta zona do mundo e, como responsável pela moeda única – Euro –, tem como principal missão garantir o seu poder de compra. Após a fase mais difícil da crise Covid, o mundo teve alguns meses de tréguas com o crescimento da economia a começar a acontecer e com a previsão de que o “Programa da Compra de Dívida Pública (PEPP) e o Programa de Intervenção no Mercado de Obrigações” durariam até ao final do presente ano. Na última e muito recente reunião do BCE, que dizem muito discutida e com a própria governadora a discordar de algumas das medidas tomadas, ficou decidida a antecipação do fim dos aludidos programas, o que originou a imediata subida das taxas de juros da dívida pública, que em Portugal escalaram 15 pontos-base. Vivemos agora entre o risco da recessão e a aceleração da inflação. Mais uma crise, esta porque a Rússia, sem motivo plausível, invadiu a Ucrânia e começou uma guerra na Europa.

ESCASSEZ DE BENS

A Ucrânia, um dos maiores produtores mundiais de cereais e exportador de 60% de quase todos os óleos alimentares mais comuns consumidos no mundo, assiste agora à devastação dos seus campos e à suspensão da sua agricultura. Consequência: cereais e óleos alimentares vão ficar mais caros e acontecerão óbvias disrupções nas cadeias de distribuição destes produtos. O preço dos cereais já faz sentir os seus efeitos com os aumentos que vêm ocorrendo, designadamente, nos bens alimentares mais básicos como o pão, o leite e a carne. Jorge Tomás Henriques, presidente da Federação das Indústrias Portuguesas Agro-Alimentares (FIPA), conta que no passado dia 1 de março, na Bulgária, um navio carregado de trigo forrageiro foi impedido de zarpar do porto onde estava acostado em direção a Lisboa, porque “as autoridades búlgaras já estão a pôr no topo das suas prioridades a segurança alimentar do seu povo, perante o cenário mais que provável da escassez de bens”. E termina Jorge Tomás Henriques, dizendo que “mais cedo ou mais tarde vamos ser confrontados com a escassez de bens para a agroindústria e, por outro lado, com preços dos alimentos a dispararem”. Tudo, porque a Rússia, sem motivo plausível, invadiu a Ucrânia e começou uma guerra na Europa.

PREÇOS A AUMENTAR

O barril de petróleo atinge preços máximos, o gás sobe para valores nunca vistos e a eletricidade segue o mesmo caminho dos aumentos recordes. Até há uns dias a pergunta recorrente era a de saber quando é que se iriam refletir estes aumentos nos bolsos dos cidadãos. Hoje, já se sentindo e muito, assistimos boquiabertos a aumentos de dezenas de cêntimos nos combustíveis, sem perspetiva de pararem ou pelo menos diminuírem, causando filas intermináveis nos postos de abastecimento, perplexidade com o futuro e revolta com a passividade do Governo que tem o preço dos combustíveis cercado com impostos e deles ou de parte deles não querendo largar mão. No gás, como na eletricidade, o preço é fixado pela Entidade Reguladora de Serviços Energéticos (ERSE), onde é definido o preço pelos fornecedores de forma livre e concorrencial, podendo ocorrer atualizações extraordinárias trimestrais e, por isso, o impacto far-se-á sentir mais tarde. Tudo, porque a Rússia, sem motivo plausível, invadiu a Ucrânia e começou uma guerra na Europa.

TEMPESTADE PERFEITA

Estaremos à beira da “tempestade perfeita”, com economias que não crescem, com a óbvia consequência do aumento do desemprego e, como atrás vimos, com os preços a dispararem? Se o conflito durar, não pode ser posta de lado a ocorrência da referida “tempestade perfeita” e, havendo embora uma desaceleração da previsão de crescimento das economias europeias, ela ainda não configura uma recessão, pois os respetivos PIB estão em recuperação da crise pandémica. Esta tempestade, que em termos técnicos é designada por estagflação, é um misto de estagnação e inflação, que é combatida através de uma política de subida das taxas de juro que tem como efeito o aumento muito significativo dos juros da dívida pública por implicar a retirada de estímulos à economia e, assim, poder levar-nos de novo aos tempos da troika. Tudo, porque a Rússia, sem motivo plausível, invadiu a Ucrânia e começou uma guerra na Europa.

O POVO UCRANIANO

Muitos outros exemplos poderíamos dar, como o sangue inocente derramado todos os dias e noites, as famílias divididas, as cidades destruídas, o êxodo de refugiados, a ameaça miserável e irresponsável do uso de armamento atómico, o ditador Putin com a sua tirania obscena retratada na distância que mantém dos “seus”, em mesas de metros sem fim. O exemplo mais pungente é o do povo ucraniano, que soube proteger as suas crianças e não arredou pé na defesa do seu país, bem sabendo da desproporção militar existente. Volodymyr Zelensky é o Presidente, o líder, o herói que não quis “boleias” porque estava e está deter-minado em defender o seu país e o seu povo. O povo ucraniano!

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