FERNANDO NEGRÃO

RESILIÊNCIAO nosso país é o exemplo de um povo que percebeu sem necessidade de grandes explicações o que estava em causa e reagiu em consonância com a prática histórica de aderir à vacinação, evitar ajuntamentos e usar a máscara facial. 

Todos aqueles a quem a vida proporcionou nas últimas décadas, ou por motivos profissionais ou por razões de natureza pessoal, uma visita ao mundo asiático, constataram o uso quase sistemático de máscara facial, em especial nos aeroportos, estações ferroviárias, centros urbanos e outros lugares de aglomeração de pessoas. Prática esta que corresponde a uma longa história de autoproteção, com as mais variadas causas e que sempre serviu como prática preventiva de doenças infeciosas. Centremo-nos no Japão, onde durante o período Edo (1603-1868) as pessoas cobriam o seu rosto com um bocado de papel ou com um ramo de sakaki, uma planta tida como sagrada, para evitar a expulsão do que designavam “hálito sujo”. Tratava-se de tempos em que o conceito de higiene era ainda muito difuso ou mesmo inexistente, e essa prática constituía-se como uma forma de autoproteção quase inconsciente, mas bem avaliada, pois o conhecimento científico era escasso e a prática de saúde pública era inexistente. 

Contudo, na história deste país é claro o momento em que o uso de máscaras faciais é incorporado nos hábitos dos cidadãos japoneses, que acontece no início do século XX com a pandemia da gripe espanhola. Pandemia essa que causou cerca de 23 milhões de pessoas infetadas e quase 400 mil mortes, num país que à época tinha 57 milhões de habitantes. Para além da vacinação e do isolamento determinados pelas autoridades sanitárias e políticas para enfrentar e reduzir os riscos da pandemia, generalizou-se o uso da máscara facial para, na conjugação das três medidas, ajudar a controlar o vírus. 

UM HÁBITO QUE PERDUROU – Curiosamente, o uso da máscara foi prática em todos os países a oriente e a ocidente afetados por essa pandemia, mas só no Japão o hábito do uso de máscara perdurou até hoje e continuará a fazer parte do seu modo de vida, não só por razões de uma maior confiança na ciência, como também por se ter transformado num símbolo de avanço tecnológico numa sociedade que iniciava o seu processo de industrialização e também, imagine-se o poder já da imagem, por razões estéticas. Mais curioso ainda foi a perceção que a população japonesa teve relativamente às vantagens do uso de máscara, a ela aderindo em massa através de uma estratégia de enfrentamento, ou seja, fazendo uso de todos os recursos internos e externos que possam ser usados para uma melhor adaptação a ambientes contrários a uma boa saúde e causadores de elevados níveis de stress. 

Mas, mais decisivo ainda, é a capacidade dos povos em se anteciparem até à ciência e avançarem por eles próprios com práticas de proteção e, dessa forma, se protegerem de fenómenos e doenças desconhecidas e perigosas. Isto é que é resiliência! 

ATITUDE EXEMPLAR – Esta atitude resiliente aconteceu então na Ásia e acontece agora em todo o mundo, onde ocorreu uma corrida quase imediata ao uso de máscara facial como fator decisivo para o controlo da pandemia Covid-19 que, ainda hoje, circula entre nós. Saliento o nosso país como exemplo de um povo que percebeu sem necessidade de grandes explicações o que estava em causa e reagiu em consonância com a prática histórica de aderir à vacinação, evitar ajuntamentos e usar a máscara facial. É este o chamado “novo normal”, porque depois de usada pelos assaltantes de bancos, figuras histriónicas do mundo artístico e outros e turistas japoneses, o uso de máscara facial em público é agora prática comum e sinal de boa prática no que à saúde diz respeito. 

Os portugueses foram e são resilientes! E mais, nós portugueses bem sabemos que mesmo deixando de ser obrigatório o uso dessa máscara, a mesma deverá continuar a manter-se nos nossos bolsos e malas para a usarmos nas alturas e circunstâncias adequadas e dessa forma evitarmos voltar novamente a ser apanhados desprevenidos. 

Parabéns ao povo português! 

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