FERNANDO NEGRÃO

REFORMASA vida pública nacional, mercê de uma excessiva politização partidária dos acontecimentos diários, com o contributo sempre disponível de comentadores que em regra são políticos, tem ajudado a levar os portugueses a desinteressarem-se da vida política, o que equivale a um défice grave de contributo crítico, bem como da fiscalização das decisões tomadas por quem tem essa responsabilidade. 

Como a notícia quase nunca é a do cão que morde o homem, mas sim a do homem que morde o cão, é natural que as notícias potenciem o que de mais negativo acontece na vida pública e, assim, aos poucos se vá acentuando uma imagem menos boa da política, dos políticos, da sua ação e palavras. Não fui, nem nunca serei subscritor de qualquer ideia de condicionamento ou de criação de limites à liberdade de imprensa. Sem ela a democracia não existiria e sem ela o poder que corrompe andaria à solta, quando todos sabemos que o poder corrompe e o poder total corrompe totalmente. Daí a importância do princípio aludido, do cão/homem/notícia, pois só assim é possível fazer a denúncia dos atropelos, dar notícia das incompetências e revelar o mau uso dos meios públicos. 

A adaptação da comunicação socialOs próprios media, também por via do afastamento de quem os utiliza, o que acontece pelo desinteresse algumas vezes fomentado e pela apatia muitas vezes alimentada, têm vindo a adaptar-se, não só através de mudança de conteúdos, como também na forma de chegar ao público e, ainda, através de uma interessante recomposição acionista de novos media que vêm na maioria dos casos com conteúdo ideológico inovador, constituindo importante contributo para a pluralidade. Esta recomposição tem um bom exemplo no caso do jornal online e rádio Observador, com o suporte de acionistas privados, a segurança de um grupo de jornalistas profissionais que garantem independência e com o foco num espaço ideológico que existindo, pouco espaço tinha nos media. Surge, de novo em formato de papel, o Diário de Notícias, a ajustar-se a um público que lia jornais, tentando recuperá-los para a sua leitura. O jornal Público, que mantém, através de alterações frequentes mas discretas, a sua marca de água que é a do pluralismo e da qualidade. O Correio da Manhã, que é um exemplo interessante de jornalismo de denúncia clara e objetiva, não precisando de mudar, bastando-lhe mantê-lo e desenvolvê-lo, pois tem um largo conjunto de leitores fiéis. O Expresso, semanário que vem de antes de Abril de 1974, sempre na defesa da democracia e dos valores da liberdade, não só mantém esses valores, como tem sabido adaptar-se a cada tempo novo e, assim, corresponder ao pretendido por um largo número de leitores. 

Necessidade de reformas profundasEstas sumariadas mudanças nos meios de comunicação social revelam que estão à frente e compreendem bem a sociedade em que estão inseridos e, ainda, que pressentiram e, por isso, mudaram, pelo conhecimento que têm das profundas reformas que o país precisa. A sensação que se tem é de um largo “enfartamento” relativamente à ausência de capacidade de resposta das nossas instituições, da existência de culturas muito fortes em algumas delas e que mais não são do que práticas de autoproteção e de hostilização de tudo o que possa vir de fora e, também, uma cultura de segredo quase permanente que se tem traduzido em não dizer a verdade para poder continuar a manter o pequeno/grande poder alimentando o manto de segredo sobre o que se vai fazendo. Estes tópicos revelam bem a necessidade de reformas e reformas profundas nas instituições nacionais, que o poder político tem adiado desde há décadas, talvez pensando que não desafiando o status quo é mais fácil ir ganhando eleições. Fica um pequeno exemplo. No já famoso Plano de Resiliência, o Estado é contemplado com uma enorme fatia de 70% das respetivas verbas, deixando uma parte mínima para a economia e criação de riqueza de que tanto precisamos para enfrentar a grave pandemia económica que já se instalou no país. E, ainda, o facto de se querer fazer uma forte aposta na digitalização e, ao mesmo tempo, anunciar novas admissões na função pública.  Assim sendo, tememos todos continuar na cauda da europa, a viver do Estado e para o Estado, mantendo a vergonha dos elevados índices de desigualdades sociais e pobreza! 

 A FRONTLINE é uma revista que tem um espaço muito próprio e um público heterogéneo e, só por isso que é muito, merece parabéns. Mas está também de parabéns porque faz anos e os anos que tem e os muitos que se adivinham são e serão anos de excelência de que todos queremos continuar a usufruir. Parabéns e que conte muitos! 

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