FERNANDO LEAL DA COSTA

JCF_0098EXITS VARIADOS

Durante o processo de campanha no referendo do Brexit houve quem defendesse a “saída” na perspetiva da melhoria da saúde no Reino Unido. Os defensores do exit defenderam que a libertação das comparticipações para a UE iria melhorar o financiamento do NHS. Nada de mais falso, como não se cansaram de tentar demonstrar vários organismos e publicações médicas especializadas.  A verdade é que não existirá nenhum benefício, para a saúde dos britânicos, que possa advir da saída da UE e existem, isso sim, muitas e bem fundamentadas razões para que a saúde pública nas terras reais se venha a deteriorar. Bem sei que a mentalidade colonial, que ainda domina os setores mais conservadores da política da Albion, crê que com as ex-colónias terão sempre acesso à mão de obra necessária e que os intercâmbios com terras de Francos e Godos não serão precisos para a manutenção do enquadramento sanitário, formativo e de investigação do NHS. Os argumentos que podem ser consultados num conjunto de pareceres publicados pelo Royal College of Physicians, bem como os artigos de inúmeras revistas, de que sublinho o British Medical Journal que tomou partido pelo permanecer na Europa – a única vez que esta publicação assumiu um compromisso político –, foram claros na perspetiva de impactos negativos na captação de recursos humanos diferenciados e altamente especializados, na redução de alunos europeus nas suas universidades, no afastamento face a poderosos centros de decisão sanitária como o ECDC e o OEDT, na perda de agências como a EMA (Agência Europeia do Medicamento, que está sediada em Londres), na diminuição da atratividade do Reino como local de investigação e fabrico de medicamentos e outros produtos de saúde, na menor presença em redes de investigação transeuropeias, na ausência de participação nas decisões da Europa e, com isso, perda de influência junto da OMS e outras agências de carácter não apenas europeu.CLamento muito a estupidez do Brexit, exemplo daquilo a que uma consulta popular com intenção popularucha pode levar, e devo confessar que até acredito que a sombra do desmembramento do Reino levará a que, afinal, não haja Brexit. Se houver, temos de lutar já, a partir de ontem, para fixar a EMA em Portugal, trazer indústrias para cá (não só do setor químico-farmacêutico, mas também de outras áreas da engenharia, como a do fabrico de automóveis e da eletrónica), reafirmar um papel privilegiado na interface da Europa com a África e o Brasil, também no campo da saúde – é também para isso que temos um Instituto de Higiene e Medicina Tropical – e competir na captação de estudantes do espaço anglófono que queiram vir, total ou parcialmente, aprender profissões da saúde em Portugal. Estou certo de que o recente apelo a um referendo sobre a saída de Portugal da UE não passará disso, de uma chamada de atenção de quem tanto dela precisa. Resta-nos imaginar, caso isso acontecesse, como deveríamos chamar a semelhante aberração. Lusexit, Portexit, Lusitexit, Tugexit ou, futebolisticamente falando, Magricexit, quem sabe se em desespero de causa, Cristianexit?