SINAIS
Há umas semanas cruzei-me com uma frase atribuída a Edward Bernays: “A propaganda é o braço executivo do governo invisível.” Para Bernays, a propaganda é o elemento essencial para a manipulação das vontades das massas, a engenharia do consentimento, para a construção da vontade coletiva. Claro que a propaganda pode ser menos ética e usada de forma ilícita com o objetivo de influenciar juízos e decisões para efeitos de consumo, a publicidade, como para a “construção” de uma opinião que determine a vontade de votar numa pessoa ou partido político. Não me vou debruçar sobre os fenómenos de manipulação de massas. Nem deixo que a minha admiração por um dos nomes maiores do marketing me permita esquecer de que ele foi um promotor do tabagismo feminino. Também não é objetivo deste pequeno texto tentar escrever sobre o papel do “governo invisível”, o conjunto de determinantes de que o cidadão comum não se apercebe e que fazem o Governo do mundo.
Não, não é nada de conspirativo, é apenas a lembrança de que as motivações que determinam as decisões de governantes e o destino de cada um nem sempre são imediatamente percetíveis. Mas a propaganda, de que Bernays falava na frase do princípio, é uma atividade complexa, fascinante e cheia de riscos. Pode ser bem feita. Tem nobreza e não deve ser desprezada. O seu sucesso mede-se por respostas do grupo, sejam os volumes de vendas, os votos conquistados, a adesão a uma modificação de comportamento, a submissão passiva de um povo ou as chamadas “taxas de aprovação” de políticos.
Nas últimas semanas assistimos a alguns exemplos do que pode ser propaganda demasiado simplista e displicente. E toda ela com elevados riscos de provocar efeitos contrários aos do desejo do propagandista. Um partido na oposição procura fazer-nos aceitar a ideia de que votará contra um orçamento, um instrumento que confere autorização ao Governo para arrecadar impostos e gastá-los, se não for aceite um referendo sobre temas que nada tem a ver com política orçamental. Basear propaganda na ideia de que o público é estúpido, não funciona. Na restante oposição, vão da recusa em aprovar o que ainda não conhecem ao cinismo de ir mudando de opinião em função das conjeturas sobre hipotéticos ganhos ou perdas. Estes, os “indecisos”, são os que não perceberam que a propaganda só funciona quando há clareza na descrição do produto que se publicita. Paradoxalmente, uma mentira, desde que seja um “conto” coerente, consegue maior adesão do que uma incerteza. Uma ministra vai visitar uma instituição que tutela e é “surpreendida” pela companhia do primeiro-ministro e do Presidente da República. Diria que a presença do último tornaria a visita numa iniciativa sua e que o Governo seria o acompanhante. Tentaram vender o contrário. Afinal o Presidente e o primeiro-ministro foram para tutelar a figura com maior risco de imagem e a isso chamaram “apoiar”. A taxa de aprovação da ministra caiu. Não é certo, pelo contrário, que o país vá precisar de mais médicos formados dentro de seis anos, mas declara-se a intenção de abrir mais faculdades de Medicina em futuro incerto. E, corolário do que é propaganda inventada no momento e sem talento de quem a inventou, tivemos o nosso primeiro-ministro num bote de borracha navegando por sobre a tragédia. A ideia com que fico é que a má propaganda, improvisada, sem planificação, é o espelho da política nacional. Quando nem a propaganda é bem feita, estamos mesmo mal. São maus sinais.