FERNANDO LEAL DA COSTA

ESTRANGEIRISMOS

A supremacia da língua inglesa é uma consequência de fatores iniciados no império vitoriano e que o desfecho da Segunda Guerra Mundial ditou de forma provavelmente definitiva. O inglês responde aos desígnios de uma língua franca mundial com escrita em alfabeto latino e é aquela que melhor interpreta as necessidades de comunicação entre comunidades com línguas natais de extrema diversidade.

É uma língua relativamente simples, na medida em que é fácil falar mal em inglês e, mesmo assim, ser entendido ao nível básico. Tem uma precisão de substantivos e adjetivos que é muito conveniente para descrições de objetos, estados e qualidades. Pode ser-se conciso na língua inglesa, o que se adapta às necessidades das tecnologias emergentes. São muitos os povos e países que assumiram o inglês como língua nacional unificadora, enquanto língua oficial, e não é infrequente que as conversas em línguas naturais de países africanos ou asiáticos incorporem naturalmente palavras em inglês. Já acontece na Europa e até em português já é um facto de cada dia e não só com expressões técnicas.

É evidente que o processo de colonização linguística se acelerou pela influência das letras das músicas, do cinema e da televisão e, de forma irreversível, pela internet (um anglicismo que descreve uma ferramenta, uma forma de comunicar, uma cultura que em português teria de ser descrito como rede e mais umas quantas palavras para que se percebesse que não seria de pesca). Há padrões de segurança, por exemplo na aviação comercial, que obrigam a que tudo seja comunicado em inglês, até comunicações internas do cockpit (mais um…) para a tripulação de cabine.

Esta expansão, inevitável e insubstituível, do vocabulário e da língua inglesa na comunicação científica e intelectual internacional levou a que haja uma tendência crescente para a substituição do ensino superior em língua nacional para ensino em inglês. As vantagens para a captação de estudantes que sejam oriundos de vários países, apenas ligados por todos falarem em inglês, são evidentes. No entanto, como uma recente polémica acerca da passagem do nome de uma faculdade de direito para “law school” ilustrou, terá de haver balizas e bom senso em todo o processo de internacionalização das universidades portuguesas. Por um lado, é de evitar o quase provincianismo de substituir o primeiro nome das faculdades e dos cursos lá ministrados para designações em inglês. É tudo medical, economics, business, law, etc., como se isso não devesse ser a tradução de um nome original em português, uma epígrafe adicional.

Depois, há cursos ministrados em inglês, sem que o curso original continue a ser dado em português. Daqui resultam aulas em inglês macarrónico, lecionadas por professores que não tiveram a devida formação em língua inglesa. Chega-se ao ridículo de ter um curso ensinado em inglês quase sem estrangeiros na sala. O desejável seria ter duas versões do mesmo currículo, o que felizmente ainda acontece em algumas faculdades lusas. Da mesma forma que as aulas em inglês só deveriam ser dadas por quem falasse e dominasse o assunto em inglês, em vez do “inglixe” corrente, as ditas faculdades estrangeiradas deveriam investir no ensino prévio de português, sendo que a conclusão das licenciaturas deveria estar condicionada a saber falar corretamente em português para poder trabalhar em Portugal. Isso sim, seria captação de cérebros.

Mais do que captar estudantes estrangeiros para as universidades portuguesas, muitos deles de qualidade duvidosa, interessa-nos captar investigadores com capacidades internacionalmente reconhecidas, incluindo portugueses, capazes de produzir, publicar e vender know-how (ainda outro…), o que se consegue pela oferta de condições de trabalho e salários competitivos. Até lá, apenas a vender cursos em língua inglesa, por mais que se queiram convencer do contrário, até poderá servir para competir com o Panamá ou a República Checa, mas não será suficiente para nos elevar ao nível do Top 10 mundial universitário, para onde os nossos melhores e mais abonados estudantes emigram e de onde não voltam. Nem de Espanha regressam, onde não chega falar “portinhol” para se ser doutor.

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