F. LEAL DA COSTA

JCF_0095-e1459968150653-300x195UMA SÓ LUTA

A visão tradicional sobre as agências estatais que lidam com o ambiente tende a isolá-las. Separa-se o ambiente, no contexto das discussões políticas, como se o meio não fosse tão essencial como a genética ou a cultura. Tradicionalmente, tal como muitas vezes acontece com a saúde, há a ideia de que as questões ambientais são apenas do interesse de um número restrito de pessoas e, quase sempre, mais prejudiciais para o crescimento económico do que geradoras de riqueza. O pensamento e a preocupação sobre o ambiente devem ter uma visão antropocêntrica. Se esta perspetiva ofender os defensores das plantas e dos animais, nada será mais errado. Se nos interessamos pelo ambiente é porque compreendemos que as questões ambientais nos afetam. Se a espécie humana não existisse, não haveria quem, racionalmente, se preocupasse em tratar do ambiente e nem é certo que o planeta evoluísse necessariamente melhor se não existissem humanos. Todavia, não podemos deixar de admitir que a ação humana, em particular depois da Revolução Industrial, tem contribuído para a degradação acelerada dos meios e da sua variabilidade, com graves consequências para a saúde humana. O aquecimento global, a destruição da camada de ozono e as mudanças climáticas são reais. Não sei se o grau em que acontecem é tão pronunciado como nos querem fazer crer, nem se as projeções de efeitos estão todas corretas. Mas não duvido que há um conjunto de mudanças significativas no ambiente planetário e que estas alterações são, em grande parte, resultado de atividades humanas. Porque o ambiente determina a saúde, ninguém se preocupa mais com o ambiente – seja ele nos domicílios, nos locais de trabalho, nas cidades, nos rios ou nos campos – do que os profissionais da saúde. A OMS publicou agora a segunda edição do relatório sobre a prevenção das doenças através de ambientes saudáveis. A mesma OMS já tinha, recentemente, publicado relatórios sobre saúde urbana e sobre os efeitos das alterações climáticas na saúde. Em todos se alerta para medidas que só poderão ser implementadas através de interações entre setores específicos, incluindo áreas económicas, financeiras, agrícolas e industriais. Em todos eles há o apelo a que os departamentos públicos responsáveis pela saúde tenham um papel central. É preciso que a saúde seja ainda mais considerada no plano da governação. As pessoas beneficiarão com isso. Vinte e três por cento das mortes anuais acontecem por causas relacionadas com o ambiente. Tudo indica que por cada unidade investida em proteção ambiental possa haver retorno superior a 40 vezes, se considerarmos os benefícios para a saúde das pessoas. Contudo, havendo já, na UE, obrigatoriedade de avaliação de impactos ambientais para um grande número de projetos, quando surgirá igual obrigação para a avaliação de impactos na saúde? Em boa verdade, as agências da saúde e do ambiente não podem existir separadamente e ambas ganharão se andarem ligadas. Pelo bem-estar há uma só luta, embora com muitos combates.