FERNANDO LEAL DA COSTA 

VIAGENS – A FRONTLINE é uma revista que se dedica, com especial mestria, ao lifestyle and business. Tiveram a gentileza de me acolher entre os seus colaboradores regulares. Esta revista faz agora 14 anos. Que venham muitos mais. Dar os parabéns não chega para saudar este espaço de publicação, um dos que reputo de maior qualidade em Portugal. Como em tantas outras coisas na vida que cultivamos com estilo, ganhei eu muito mais do que alguma vez ganhou a FRONTLINE comigo. Em todos estes anos, acho que já foram mais de cinco, em que tenho tido o prazer de escrever para os leitores da FRONTLINE, nunca deixei de ler as suas deliciosas páginas dedicadas a viagens e hotéis. Assumo que um dos maiores prazeres de que posso desfrutar é ir. Ir, partir, viajar e chegar. Como dizem os grandes viajantes, o prazer está no caminho e não na chegada. Não me parece que seja tanto assim. Gosto de chegar, instalar-me, ir ficando, conhecer, gozando os locais. Neste momento de confinamento repetido, agora progressivamente afastado, o que mais me custou foi não ter podido viajar. Privilegiado, eu que me posso dar ao luxo de apenas referir o confinamento territorial como desvantagem da Covid-19. Não me levem a mal. Precisava desta ligação para continuar a crónica. Ora, nesta fase de confinado, sem poder sequer mudar de concelho em Portugal, remeti-me a outro prazer, o da leitura sobre viagens. Viajar sem sair do lugar, a fórmula de Frank Herbert que gosto de citar. Travelling without moving. Sem especiaria. Conhecia Chatwin que não é propriamente um escritor de viagens. Sou fã, mas porque nos faz viajar no fictício. Há anos tive a sorte de descobrir a melhor faceta de Paul Theroux, a dos livros com comboios. Acho que foi o da Patagónia. Fiquei viciado. Penso que já li todos os livros de viagens do Theroux e apenas dois dos seus romances. Gosto mais dos relatos de viagens. Um dia cruzei-me com uma súmula, “The Tao of Travel”. Tirei nota de todos os citados. Fui aviar-me em todo o lado. Os asiáticos, Colin Thubron, Geoffrey Moorhouse, Robert Byron, Freya Stark, Peter Mathiessen, Peter Fleming. Os árabes, Gertrude Bell, Théodore Monod, Wilfred Thesiger. Os africanos, René Caillé e Mungo Park, Morton Stanley, Hermenegildo Capelo e Roberto Ivens. Percorri rios com relatores do Congo, Phill Harwood e Tim Butcher. Descobri “novos” escritores, já conhecidos por outros feitos, como Mark Twain, Alberto Moravia, Graham Greene, Jan Morris e Henry Miller, sim, o do Sexus que tem um livro fascinante sobre a Grécia. Os historiadores polares, Roland Huntford, e os que lá sofreram como Ernest Shackleton e Apsley Cherry-Garrard, o da pior viagem do mundo. Fiz a rota da seda, em lagartas, com a Expedição Amarela. Desbravei o Amazonas a pé com Ed Stafford. Atravessei Borneo com Erik Jensen e Robert O’Halon. Li os mais modernos como Michael Palin, o dos Monty Python, esse mesmo, e fartei-me de caminhar com Levison Wood e Rory Stewart. Escalei o Anapurna com Herzog e o Everest com Krakauer. Perdi-me nos Andes e na selva da Bolívia. Com Gonçalo Cadilhe dei a volta ao planeta. Até descobri um livro de viagens de Guilherme d’Oliveira Martins. A listagem é infinda. Pena que as livrarias e os livreiros portugueses, pese embora a magnífica série da Tinta da China e a excelente coleção da Europa-América, quase toda esgotada, não tenham maior apreço pelo género de literatura de viagens. Quando se procura viagens, só nos saem os guias. Fica a sugestão, procurem, encomendem, leiam. Sobretudo, viajem. É um lifestyle e presta-se a muito business. Venha o desconfinamento. E que perdure. 

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