FERNANDO LEAL DA COSTA

IMPUNIDADES – Há três meses li que um suposto chef, aparentemente conhecido na praça, terá afirmado: “Não consegui vingar os portugueses pelo dinheiro que lhes foi roubado, mas consegui, no mínimo, fazê-lo cagar uns três ou quatro dias. “O eloquente cozinheiro e dono do restaurante onde, segundo o próprio, terão infligido uma intoxicação alimentar ao cliente, passou incólume ao rastreio da ASAE que, no mínimo, deveria ter encerrado a espelunca onde parece que envenenam os clientes em regime de vingança por supostos crimes que estes possam ter cometido. tempos, a propósito do funeral de um delinquente que se filmou a velocidade alucinante numa avenida de Lisboa minutos antes de morrer, ao que tudo indica numa corrida ilegal, tivemos polícias insultados e ameaçados, cercados por motoqueiros. Um conhecido advogado da capital, ex-presidente de um clube de futebol, ainda terá uma pena por cumprir por fraude ou qualquer outra aldrabice em que se especializou e, no entanto, continua vivendo luxuosamente em Londres. 

Numa manifestação que se julgava ser antirracismo, lia-se num cartaz que “polícia bom é polícia morto”. Supõe-se, pelo teor do protesto, que só se for branco é que poderá ser bom e, consequentemente, morto. Abaixo o racismo! Neste tema, o do combate das minorias, o que está na moda é destruir estátuas, seja lá de quem forem. Podem fazê-lo, nada acontece aos iconoclastas. Numa dimensão menor, há autocaravanas estabelecidas em parques de estacionamento e ninguém parece importar-se, já que o “turismo” é rei, para lá daqueles a quem o lugar é tirado. E ainda há os processos mais mediáticos onde os acusados são tão vedetas como os juízes. Demoram anos, nunca mais acabam e, antes da sentença, os “culpados” são sentenciados várias vezes. No fim, não raras vezes, entre adiamentos, prescrições e outras manobras, a verdadeira justiça acaba por não ocorrer. Às vezes, lamentavelmente, nem as provas incriminatórias resistem à análise factual e à aplicação da lei. 

São inúmeras as situações onde fica a sensação de que há demasiada impunidade em Portugal. Entre penas leves, atrasos na aplicação da justiça, falta de meios de investigação e incúria ou incompetência das forças de segurança e dos meios judiciais, foi-se instalando a ideia de que há demasiada impunidade em Portugal. Do grande ao pequeno caso. 

A perceção, mesmo que exagerada, de laxismo e falta de punição, leva ao descrédito do sistema judicial, à justiça informal e à perda de confiança do estado democrático. Bem mais perigosas, a sensação de perda de respeito pela autoridade e a insegurança, do que todas as Covid deste mundo. 

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