QUEM É MAFALDA PERDIGÃO? Nascida em Viseu, a 23 de outubro de 1991, desde muito cedo desenvolveu uma paixão por dois mundos: os cavalos e o vinho. Foi no vinho que se decidiu focar, aprofundando o seu conhecimento sobre essa arte fascinante.
Mafalda Perdigão iniciou o seu percurso em 2013, ao estudar Viticultura e Enologia na Escola Superior Agrária de Santarém, e depois concluiu a licenciatura em Enologia e Viticultura na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) em 2016. Embora a sua formação académica tenha sido fundamental, foi com o seu pai, nas vinhas da sua família, que a sua verdadeira paixão e conhecimento pelo vinho se desenvolveram. O acompanhamento das vinhas e a partilha da sua sabedoria foram essenciais para Mafalda Perdigão se moldar como enóloga. Hoje, continua a explorar e a desafiar-se no mundo dos vinhos, sempre com o Dão no coração, uma região que sente como parte de si.
PAIXÃO ALIADA AO LEGADO
A escolha de se dedicar à enologia foi, sem dúvida, uma paixão natural que floresceu com o tempo. Desde criança, que se envolveu na produção de vinhos com o seu pai, e a experiência de caminhar pelas vinhas, provar as uvas e participar na vindima foi aumentando e confirmando o seu amor por esse mundo. Apesar de existir um legado familiar forte, nunca sentiu pressão para seguir esse caminho. A sua escolha foi impulsionada pela curiosidade, pelo amor pela agricultura e pela vontade de continuar a tradição familiar, mas de uma forma autêntica e pessoal.
Questionámos a enóloga sobre a importância e contributo dos saberes e tradições que lhe foram transmitidos através do seu envolvimento na Quinta do Perdigão. Reconhece a mais-valia quando aliada à sua formação académica, confirmando que sem dúvida a Quinta do Perdigão, sendo um projeto familiar, desempenhou um papel crucial na sua iniciação ao mundo do vinho. Desde muito pequena, o seu pai transmitiu-lhe entusiasmo e paixão pelo vinho, algo que a fascinou e despertou a sua curiosidade. O que aprendeu na universidade e a experiência que adquiriu ao trabalhar com outros enólogos trouxeram-lhe uma compreensão mais profunda do que é produzir vinho através da sensibilidade, a par do conhecimento, e assim atingir equilíbrio. Esta conjugação é, para si, fundamental na criação de vinhos com identidade e autenticidade.
ENOTELLER É TUDO SOBRE VINHO!
O projeto Enoteller nasceu da sua vontade de partilhar o conhecimento e a paixão pelo vinho de uma forma acessível e envolvente. A ideia de que “é tudo sobre vinho” reflete o propósito de criar um espaço onde o vinho pode ser apreciado, discutido e entendido de uma forma “descomplicada”. Conta-nos que sempre sentiu que o vinho tem o poder de conectar pessoas e contar histórias, desse modo, quis explorar essa dimensão através deste projeto. Percebendo que, para além de produzir vinho, tinha o desejo de comunicar e educar, de forma a abrir as portas do fascinante universo do mundo do vinho e incentivar as pessoas a explorarem, descobrirem e apaixonarem-se por esta arte que lhes cria felicidade.
DÃO NO CORAÇÃO
Sendo Portugal um país com uma particularidade incrível de reunir tantas regiões vinícolas de características tão diferentes, é visível no trabalho desenvolvido pela enóloga que o Dão é sem dúvida sempre a primeira escolha. Perguntámos se essa escolha é emocional, devido à sua ligação à região, que também é a sua casa ou se, de facto, é uma escolha que a move profissionalmente. Mafalda esclarece-nos, prontamente, que acaba por ser a fusão perfeita, pois o Dão é, sem dúvida, a sua casa, mas, mais do que isso, é uma região que a fascina enquanto enóloga.
O terroir do Dão, com as suas condições únicas de solo e clima, permite criar vinhos de uma elegância e autenticidade incomparáveis. O seu trabalho na região não é apenas uma questão de proximidade geográfica, mas sim uma vontade genuína de contribuir para a dinamização da cultura vitivinícola do Dão. Através dos vinhos que produz e dos workshops que realiza com o projeto Enoteller, procura valorizar o Dão e promover o seu enorme potencial, tanto a nível nacional como internacional.
É visível a paixão e dedicação da enóloga na contribuição e valorização do Dão, reconhecendo também a sua importância nessa jornada. Diz-nos que o reconhecimento da região do Dão tem sido um processo gradual, e acredita que cada enólogo que trabalha nesta região contribui para essa jornada. No seu caso, sente-se honrada por fazer parte desse movimento que visa mostrar ao mundo a qualidade e a singularidade dos vinhos do Dão. O seu contributo passa por preservar a autenticidade das castas autóctones e procurar inovar sem perder a essência do terroir. Acredita que, com cada garrafa que se produz e cada história que se partilha, estão a fortalecer o posicionamento da região e a garantir que os vinhos do Dão sejam apreciados e reconhecidos pela sua excelência.
Como nos diz a enóloga, cada garrafa que produzem, cada partilha que fazem, representa um pedaço da história que está a ser feita, não só pelo Dão mas sim no mundo do vinho. Pedimos à enóloga que se tivesse que escolher os vinhos que a definissem como pessoa e enóloga, e ainda aqueles cuja produção foi mais desafiante, qual escolheria? Remata-nos que escolher um vinho nessas circunstâncias é algo difícil, pois acredita que cada vinho que produz reflete uma parte de si – da sua dedicação, das suas experiências e da sua paixão por este mundo. No que toca aos vinhos mais desafiantes, considera que todos, de certa forma, o são. Cada vinho que cria é como uma obra de arte, uma expressão única do terroir, das castas e da natureza. Tal como na arte, há sempre desafios – seja no campo, na adega ou nas decisões que tomamos ao longo do processo. Conclui que o que torna este percurso fascinante é a busca constante por algo único e a vontade de expressar, em cada garrafa, algo que seja autêntico.
DESAFIOS E ADAPTAÇÕES
A enologia e a viticultura estão em constante alteração e evolução, seja por questões políticas, económicas e naturais, situação que abordámos com a enóloga.
Primeiramente a competitividade e também a facilidade que, neste momento no mercado da produção massiva e comercialização de vinhos, possa retirar qualidade ao produto. Mafalda esclarece-nos que o aumento da produção de vinhos em grande escala pode representar um desafio para quem procura manter a autenticidade e as características únicas de cada região. Num mercado tão competitivo, há o risco de a produção massiva acabar por homogeneizar os vinhos, retirando-lhes a autenticidade. No entanto, acredita que o consumidor está cada vez mais informado e interessado em vinhos autênticos, feitos com paixão e respeito pelo terroir. O desafio está em educar o público e manter um compromisso firme com a qualidade e autenticidade, para que vinhos únicos continuem a ter o seu espaço e valor no mercado.
Em segundo, a questão de Portugal estar a ficar sem um ciclo de estações onde as alterações climáticas estão a impor uma nova realidade. De que forma tudo isto representa uma adaptação desafiante para os produtores e enólogos e quais as questões que considera cruciais para intervir? Confirma a enóloga que as alterações climáticas são uma das maiores preocupações para o futuro da vitivinicultura. O aumento das temperaturas, as secas prolongadas e os eventos climáticos extremos já estão a impactar a produção de vinho em várias regiões. Embora seja uma realidade preocupante, acredita que a enologia e a viticultura têm mostrado uma capacidade incrível de adaptação ao longo dos séculos. Enfrentar este desafio requer inovação, como a seleção de castas mais resilientes ao calor e práticas mais sustentáveis. É uma adaptação desafiante, mas acredita que com pesquisa e colaboração vão encontrar soluções para preservar a qualidade dos vinhos.
Para terminar, pedimos à enóloga Mafalda Perdigão que palavras gostaria de deixar para serem recordadas, ao que respondeu: “Que nunca falte paixão no que fazemos, respeito por tudo o que aprendemos, e curiosidade para continuar a explorar o que ainda não sabemos.” Acredito que estes três princípios são fundamentais, não só na produção de vinho, mas em qualquer caminho que escolhemos seguir.