CARLOS ZORRINHO

ESTADOS UNIDOS DA EUROPA

O mundo está a mudar. A Europa também e aos solavancos. A aflição gera modelos de governação atípi­cos com líderes tecnocratas mandatados para governar sem a legitimidade directa do voto, como na Grécia e em Itália, e com os ministros das Finanças a capturarem os governos na generalidade dos países da zona euro (de tal forma que o avisado Mário Monti decidiu acumular o seu magistério de coordenação do Governo com a pasta das Finanças).

Estas dinâmicas só podem ser consideradas normais, porque a anormalidade tomou conta de tudo. Escre­ver uma crónica sobre actualidade com duas semanas de antecedência, como é o caso desta, é arriscar vê-la publicada como um subsídio para a história do pro­cesso de mudança. Mas ainda assim é um risco que vale a pena correr.

A Europa está no meio da ponte. Há quem diga que com o ataque concertado dos mercados a atingir o Centro da Europa, esse ponto intermédio já foi mesmo ultrapas­sado e que o risco sistémico de implosão se aproxima de parâmetros muito elevados.

A história recente da Europa tem muitos exemplos de situações que gangrenaram e que deflagraram em ter­ríveis conflitos por ausência de decisão atempada, mas tem também relatos de momentos de lucidez nos mo­mentos críticos em que crises que pareciam inevitáveis se resolveram.

Há sinais de que a dimensão da crise está a despertar al­gumas consciências mais empedernidas. Os Estados Uni­dos da Europa, fundados numa União Política, Económica e Financeira com flexibilidade, geometria variável e res­peito pela diversidade dos povos e das nações europeias, deixaram de ser uma utopia e passaram a ser a melhor solução para os países da União Europeia e para o mundo.

Não se constrói uma União Política, Económica e Finan­ceira por passe de mágica. Muitos são os passos a dar. O que importa é marcar o rumo e concertar fortemen­te o objectivo comum. Os sinais de urgência na emissão comum de dívida, na eleição directa de um presidente europeu ou na atribuição ao BCE de um papel acrescido, são pequenos passos que, se forem dados, tornarão ir­reversível o sentido da caminhada e afastarão as nuvens negras que ameaçam os países europeus.

Alguns dos sinais que antes enunciei começam a ser par­tilhados por altos responsáveis de países chave como a Alemanha e por altos responsáveis da Comissão Euro­peia. Incompreensivelmente os governantes portugue­ses, comandando um país que tudo tem a ganhar com o avanço federalista na Europa, estão acantonados num nicho ideológico de resistência, que só não é trágico porque os torna irrelevantes para o futuro.

Estados Unidos da Europa. É uma utopia? Talvez seja… mas o sonho comanda a vida, e do outro lado da barri­cada só o pesadelo tem espaço.