AS PESSOAS SÃO A MINHA MÉTRICA
Quando no início deste ano fui convidado pelos meus pares para assumir a responsabilidade de ser relator permanente do Parlamento Europeu para a ajuda humanitária, tive plena consciência da dimensão do que estava em causa. Se o que dá sentido à representação política é o que fazemos pelas pessoas, tinha que abraçar e abracei a missão. Desde esse dia conheci e aprendi com gente extraordinária que dá tudo pelo bem comum e senti a frustração da impossibilidade de acudir a todos os que precisam.
Os números não enganam. Em cada minuto que passa, mais pessoas ficam em situação vulnerável e necessitam de ajuda humanitária. Em cada segundo que passa, não obstante o esforço acrescido de muitos atores, agências, instituições, empresas, países e em concreto da União Europeia, o diferencial entre os recursos disponíveis e os recursos necessários aumenta. É preciso inverter este ciclo. Agir mais e melhor preventivamente e aumentar a capacidade de resposta às emergências. Estes desafios não são possíveis de vencer com pequenos ajustamentos de governa-ção ou de comunicação. É preciso inovar e incluir, tendo as pessoas, em especial a prevenção e a mitigação do seu sofrimento, como métrica. Foi com esta convicção que, ouvindo os atores no terreno, os financiadores e os decisores políticos, integrando as suas experiências, os seus conhecimentos, as suas práticas e o seu pensamento, e assessorado por uma equipa de elevada competência, submeti o relatório sobre novas estratégias para a ajuda humanitária agora em apreciação no Parlamento Europeu. Um relatório previsto no âmbito da minha missão e que pretende contribuir para um modelo de ajuda humanitária inovador e para que as crises sejam combatidas pela sua gravidade intrínseca e não pela sua visibilidade.
Adotei uma abordagem holística baseada na articulação estratégica de três eixos: financiamento, capacidade de entrega e criação de resiliência. Na abordagem, em que se inclui uma perspetiva de género e se tem em conta a questão das pessoas com necessidades especiais, procurei fazer face a dois constrangimentos que tendem a retirar eficiência, eficácia e profundidade às intervenções. O financiamento de medidas sem adequada entrega e conexão com o aumento da resiliência é parcialmente perdido por processos de entropia sistémica que têm que ser mitigados. Por outro lado, a criação de resiliência estrutural não é possível sem um adequado financiamento, entrega e promoção de processos de cocriação em planos de proximidade.
Não existem soluções mágicas nem balas de prata para resolver as insuficiências reconhecidas. É preciso fechar o “vale da morte” da ajuda humanitária, aumentando por um lado os recursos disponíveis e tornando mais ágil e flexível a sua utilização. É preciso fazer mais e fazer melhor, com foco numa visão integral das pessoas no seu contexto, semeando esperança e colhendo resultados. Nesta missão é essa a minha métrica.