Oficialmente, Vasco da Gama nasceu em Sines, embora sobre esse tema existam teorias diversas e muitos argumentem com outras berças. Mas a ligação de Vasco da Gama a Sines, tenha ele lá nascido ou não, faz hoje mais sentido do que nunca. No século XV travou-se uma luta brutal pelo predomínio nas rotas de comércio com o Oriente. As caravanas chegavam pelo deserto, carregadas de riquezas para as cidades hanseáticas do centro da Europa. Portugal era um país periférico e acossado. Vasco da Gama assinou o reposicionamento de Portugal, resultante duma estratégia forte e persistente de muitos decisores daquele tempo, dando-lhe uma nova centralidade com a definição da rota das Índias. Não é a primeira vez que o refiro nestas páginas, mas a questão da centralidade de Portugal no mundo é mais atual que nunca, sobretudo em tempos de grande dificuldade económica e grande fragilidade estratégica de quem nos vai governando, sem chama nem ambição, num quadro de forte poder do centro económico e financeiro liderado agora pela Alemanha. A oportunidade de mudar o sentido da história está de novo ao alcance duma visão ousada e lúcida. O canal do Panamá vai reabrir com novas potencialidades e para navios de grande porte, podendo constituir um pilar dum novo futuro para Portugal como plataforma logística alternativa às sobrecarregadas
plataformas que hoje predominam (com Roterdão à cabeça). A rota do Panamá encontra Sines como porto evidente de chegada e partida das mercadorias ao continente europeu. A ligação de Sines à Europa por mar (transhipment), pelo ar (aeroporto de Beja) e por terra (ferrovia em bitola europeia e rodovia) é um desígnio estratégico nacional de que este Governo fala cada vez mais, mas não parece com fôlego para concretizar (o resultado da recente cimeira ibérica do Porto foi, deste ponto de vista, dececionante). Esta vantagem competitiva evidente não passa despercebida a ninguém. As rotas tradicionais adaptam-se aos novos tempos e a China planeia uma linha de alta velocidade que a ligue diretamente ao Norte da Europa. E nós? Mais que não seja em homenagem a Vasco da Gama e a todos os bravos marinheiros de antanho, temos que estar à altura da nova oportunidade. Portugal está estrategicamente asfixiado. Perde gentes e saberes e flagela quem cá fica. Mais de um terço dos nossos jovens qualificados não encontra trabalho. É tempo de colocarmos o nosso homem na Lua. De mandarmos de novo Vasco da Gama à Índia. De aproveitar Sines como âncora de um novo projeto de futuro. O projeto Vasco da Gama XXI (marca não registada nem validada na sua originalidade duvidosa) é mais urgente que nunca? Quem alinha na viagem? Eu há anos que estou inscrito