CARLOS ZORRINHO

LUSOFONIA E DIPLOMACIA – O ano de 2023 começou de forma auspiciosa para o reforço potencial da diplomacia ativa no espaço lusófono e a partir dele nos patamares globais em que se decide o futuro da humanidade.

No primeiro dia do ano, o Brasil voltou oficialmente à cena internacional depois do fechamento trágico promovido pelo Presidente em fuga. Lula da Silva não apenas anunciou o regresso pleno do Brasil às organizações internacionais, como simbolicamente escolheu cumprimentar em primeiro lugar, após a tomada de posse, o Presidente da República Portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa, e anunciar como sua primeira deslocação oficial uma visita de Estado a Portugal. Também no primeiro dia do ano, Moçambique iniciou o seu mandato como membro não permanente do Conselho de Segurança da ONU. No mesmo dia, a sua parlamentar Ana Rita Sithole iniciou funções como presidente do lado ACP (Africa, Caraíbas e Pacífico) na Assembleia Parlamentar Paritária ACP/UE. A segunda maior assembleia interparlamentar do mundo, que no âmbito do acordo de Cotonu, que envolve 107 países de quatro continentes, será agora copresidida em língua portuguesa, por mim, enquanto presidente da Delegação UE, e por Ana Sithole, como presidente da Delegação ACP. O primeiro semestre deste ano será́, neste plano, decisivo, porque constitui o prazo limite para a entrada em vigor do acordo de Pós-Cotonu (Acordo de Samoa), no qual a dimensão parlamentar da parceria é ainda mais reforçada com a criação de três Assembleias Paritárias Regionais (Africa/UE, Africa/ Caraíbas e África/Pacífico) em articulação com a Assembleia Global e com o aumento do seu poder de escrutínio e proposição.

A ordem global vive tempos de enorme incerteza. A minha convicção é que é prematura a desistência da ordem multilateral que nos tem conduzido nas décadas pós-guerra fria, embora sejam necessárias alterações profundas na maneira como ela se aplica. Os choques sistémicos provocados pela pandemia e pela invasão da Ucrânia pela Federação Russa demonstraram a importância das respostas multilaterais com base na independência e na autonomia estratégica dos parceiros. A autonomia estratégica e a participação alargada nas cadeias de valor e nas redes de partilha de princípios e de valores devem ser um ponto de partida e não um ponto de chegada para a evolução da globalização ou para uma pós-globalização de carácter neuronal ou reticular.

Uma globalização ou pós-globalização neuronal dependerá muito no seu sucesso das sinopses geradas entre os diversos atores. Neste contexto, a rede lusófona tem um enorme potencial diplomático e de valorização colaborativa. O ponto de viragem que a tomada de posse de Lula da Silva representou na geopolítica global deve marcar também uma nova etapa na dinâmica concretizadora da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), numa nova visão transatlântica e transoceânica, abrindo trilhos de paz e liberdade para os novos tempos que nos desafiam.

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