CARLOS ZORRINHO

EUROPA E ÁFRICA – UMA PARCERIA MAIS IMPORTANTE DO QUE NUNCA. O mundo em que vivemos desenha-se e redesenha-se todos os dias perante os nossos olhos. O risco de uma conflagração global provocada pela invasão da Ucrânia alia-se ao agravamento acelerado das alterações climáticas e aos impactos que, em conjunto, guerra e aquecimento global têm na vida dos povos e das comunidades e nos equilíbrios geopolíticos. 

A relação entre a UE e África tem que ser um dos pilares estruturantes da paz global. Um pilar que já teve melhores dias, mas que tem potencial para ser um dos pilares decisivos, tais as oportunidades que podem resultar de uma parceria multilateral, entre iguais, que a partir de valores partilhados consiga dar um novo sentido ao desenvolvimento sustentável e digno. 

O caminho a percorrer não é fácil. Acompanho a evolução das relações diplomáticas, políticas e económicas entre os dois continentes, como presidente da Delegação do Parlamento Europeu à Assembleia Parlamentar Paritária África, Caraíbas e Pacífico (ACP)/UE e copresidente dessa Assembleia. Não há como não sentir e lamentar a redução da influência relativa da parceria UE/África na geopolítica e na geoeconomia global, exatamente num tempo em que ela é mais importante do que nunca. 

A fragmentação de interesses, muitos deles ainda marcados pelos despojos dos passados coloniais, tem reduzido a capacidade de a UE falar a uma só voz e agir de forma concertada nas suas relações com os diversos atores, abrindo espaço para que as relações africanas com a UE vão perdendo espaço para as relações com a China, a Rússia, os Estados Unidos da América e com potências emergentes, em particular com a Turquia. 

Existem muitos exemplos de boas práticas de cooperação entre a UE e África, mas chegou um tempo em que é precisa uma nova ambição e uma nova atitude, que não é compatível com o veto de gaveta à entrada em vigor do acordo que estabelece a parceria entre iguais, que se sucede ao Acordo de Cotonu e que continua encalhado nas teias do veto de Orban e da Hungria por razões que nada têm a ver com o conteúdo em concreto de um programa de ação que interliga a UE a 79 países da África, Caraíbas e Pacífico e que já foi fechado em negociação bilateral há mais de um ano. 

Uma nova ambição e uma nova atitude na cooperação para pôr em prática o Acordo de Paris, ajudando ao mesmo tempo a desenvolver o potencial endógeno do continente demograficamente mais jovem do globo, criando condições para integrar as cadeias de valor globais, qualificando as pessoas e os territórios e produzindo a riqueza e os bens necessários para sarar as feridas humanitárias que o martirizam. 

A defesa do Estado de Direito e dos Direitos Humanos não podem deixar de estar na primeira linha da parceria Europa-África, mas essa defesa não pode ser apenas retórica. É a fazer acontecer que se reforçam os valores e os interesses comuns e se compreendem e respeitam as diferenças que não os contradizem. 

 

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