CARLOS ZORRINHO

ORÁCULO – A futurologia é um exercício cada vez mais difícil e não poucas vezes votado ao fracasso. As novas tecnologias criaram uma malha global de informação e de relações e interações que transportaram para o funcionamento das sociedades o designado “efeito borboleta”, conhecido sobretudo dos fenómenos meteorológicos e que se costuma ilustrar com imagens como a de que “um bater de asas de borboleta em Nova Iorque pode provocar um furacão em Manila”, ou usando outras geografias, mas com intenção similar.

Num quadro de profunda interligação dos fenómenos económicos, políticos e sociais, um acontecimento inesperado e aparentemente longínquo pode mudar, de uma penada, o contexto em que se desenvolve uma atividade ou um negócio, tornando a capacidade de adaptação rápida numa das mais valiosas competências para sobreviver e vencer. Os últimos tempos têm sido pródigos em situações que alteram de um momento para o outro previsões e perspetivas que antes pareciam sólidas e confiáveis, como bem o exemplificam a pandemia supostamente originária de um mercado em Wuhan, ou a invasão da Ucrânia que na véspera ainda parecia passível de contenção diplomática.

Sendo eurodeputado e trabalhando mais diretamente nas áreas em que mais aceleração tecnológica se tem verificado, como é o caso da energia e do digital, é normal que muitas pessoas me interroguem sobre aquilo que são as minhas perspetivas sobre o futuro de determinadas indústrias ou serviços, no contexto da transformação que está a ocorrer, em particular das indústrias e setores mais tradicionais, mas que continuam a produzir bens e serviços com potencial de mercado. Não tendo nenhum dom reconhecido de adivinhação, costumo usar o binómio informação/energia como oráculo para conduzir quem me ausculta na sua própria reflexão.

Se um setor ou uma empresa conseguir ser viável em termos do seu modelo de acesso e processamento de informação e do seu modelo de acesso e processamento de energia, então certamente se inserirá numa cadeia de valor viável e terá futuro. Se falhar omodelo de informação, a empresa ou o setor podem fazer coisas tecnologicamente extraordinárias, mas poderão estar a fazê-las à hora errada e para o cliente errado ou para um mercado que já não é o que era. Se falhar o modelo de energia, a empresa pode fazer os produtos mais desejados, mas sem margem para os colocar nas condições de competitividade e de sustentabilidade necessárias, hoje cada vez mais rigorosas e seletivas.

A melhor forma de antecipar o futuro é fazer parte dele. Se os alicerces da informação e da energia no desenho de um modelo de negócio ou na estruturação de um setor forem robustos e abertos à inovação sustentada, então ele terá mais hipóteses de responder com sucesso às crises e disrupções e aproveitar com vantagem as oportunidades arrastadas pelas mudanças e solavancos dos mercados. Se pelo contrário, no plano da informação ou da energia, ou em ambos, a empresa, o negócio ou o setor não se conseguirem alinhar com as fronteiras do conhecimento e das melhores práticas, não é preciso um oráculo sofisticado para antever o seu inevitável colapso.

 

 

 

 

 

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