CARLOS ZORRINHO

O SOL E O LEME – O sol e o leme inspiram a identidade gráfica da quarta presidência portuguesa da União Europeia. A mensagem é clara. Somos um país do Sul e do sol, e temos um rumo traçado por uma experiência quase milenar de sobrevivência e de superação e por 34 anos de integração plena e bem-sucedida no projeto europeu. 

Formado por 27 círculos que representam os membros da União, o símbolo associa-se ao lema “tempo de agir”, que ganhou um novo sentido de urgência com o contexto criado pela pandemia, que no momento em que escrevo continua bem presente e ativa, não obstante a janela de esperança aberta com o início dos processos de vacinação. A União Europeia foi lesta, tendo em conta a sua estrutura e complexidade, a compreender a necessidade de uma resposta conjunta e a conceber instrumentos coordenados e solidários cuja aplicação no terreno será assegurada pela presidência portuguesa. A nossa capacidade de agir bem sob pressão será providencial nesta circunstância. A capacidade de realizar e colocar no terreno as campanhas de vacinação e os fundos de recuperação e resiliência serão os alicerces de uma presidência forte. Contudo, o sol e o leme desafiam-nos a ir mais longe, e a sulcar os mares da transformação inovadora, fazendo face a ventos agrestes, armados de uma vela triangular estratégica, capaz de unir o combate às alterações climáticas, a digitalização inclusiva e centrada nas pessoas e a necessidade de combater as desigualdades e desenhar respostas sociais capazes de vacinar a democracia europeia contra a injustiça, o desalento e o aproveitamento populista destas fragilidades. O mandato maior que nos foi atribuído foi o de sermos fortes e federadores no combate à peste. Talvez estes não sejam os tempos mais adequados para lançar a âncora na Pedra Filosofal de António Gedeão e proclamar que o “sonho comanda a vida”, mas a vida, mesmo sob ameaça, não tem sentido se for despojada do sonho. 

Que o sol que nos inspira nos ajude também a dar um impulso na capacidade de produzir, armazenar e distribuir de forma flexível as energias renováveis e em particular que a potência capturada nas centrais solares se possa parcialmente transformar em hidrogénio verde, acessível, limpo e transformador. Que a amarração do cabo submarino de fibra ótica entre Fortaleza e Sines seja um abraço de inclusão e transparência digital ao serviço das pessoas. Que a aposta geopolítica no reforço dos laços com a Índia e com África seja a base de um tempo novo em que a autonomia estratégica e o respeito mútuo permitem fazer nascer parcerias entre iguais para a paz e o desenvolvimento. 

Finalmente, que a consciência do desafio, do risco e da interdependência nos caminhos para lhe fazer face, permita que a Cimeira Social do Porto seja um ponto de viragem para a União Europeia e para o mundo, porque o sol quando nasce é para todos e o leme convoca-nos para nos aproximarmos do bom porto dos valores do humanismo, da ética e da dignidade.  

  

 

   

 

 

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