CARLOS ZORRINHO

5G (A QUINTA GLOBALIZAÇÃO?) – A nova geração das redes de comunicação (5G) fez-se anunciar com pompa e circunstância, mas a sua implementação no terreno não tem tido uma aceleração compatível com a velocidade estonteante prometida pelo enorme potencial da tecnologia. Várias razões têm sido apontadas para este facto. Por um lado, as potencialidades da geração anterior (4G) estão longe de estar todas exploradas. Em consequência, tem sido diagnosticada uma maior dinâmica da oferta do que da procura, com os potenciais investidores a aguardarem uma baixa generalizada dos custos para conseguirem definir modelos de negócio mais sustentáveis. Esta disrupção tecnológica, pelas suas características e definições, terá um potencial de impacto enorme nas cadeias de valor e nos modelos de organização social, desafiando fortemente os atuais equilíbrios geoestratégicos. A tensão extrema entre os Estados Unidos e a China na fronteira tecnológica é apenas a ponta visível do iceberg numa competição global que é e será densa, profunda, complexa e decisiva.

A aceleração tecnológica e a aceleração da velocidade de processamento e transmissão de dados nas redes são imparáveis. A generalidade dos estudos de impacto prevê ganhos globais para a economia e para a qualidade dos serviços disponíveis, mas essa tendência agregada resultará de dinâmicas em que haverá vencedores e perdedores, quer em termos de territórios quer em termos de segmentos sociais.

Arrancar primeiro e com mais força, quer no plano do aprofundamento da investigação, quer no plano da implementação, é uma vantagem e uma oportunidade que tem levado em muitos mercados a uma intervenção incentivadora do Estado para suprir o gap de sustentabilidade económica e financeira ainda existente. Os países asiáticos tecnologicamente mais desenvolvidos, em que as regras internas de concorrência são menos apertadas, têm sido exemplos deste caminho. Embora com realidades múltiplas e diferenciadas entre os países que a constituem, a União Europeia (UE) tem um desafio difícil para vencer neste processo de revolução digital em curso. Não obstante o significativo esforço previsto para o próximo quadro plurianual de financiamento no que se refere ao aumento dos recursos para apoio ao conhecimento, ao desenvolvimento tecnológico e à inovação, designadamente através dos programas Horizonte Europa e Europa Digital, os números da UE comparam mal com os investimentos previstos pelos seus concorrentes globais, em particular com os Estados Unidos, a China, o Japão e a Coreia do Sul.

Escrevo este texto num tempo em que ainda se aguarda a apresentação da estrutura do contrato verde para o investimento, o crescimento e o emprego sustentável na Europa (Green Deal) assumido como compromisso da nova presidente da Comissão Europeia no seu programa de candidatura. Um contrato que, visando a mitigação e a adaptação às alterações climáticas, deve constituir a alavanca europeia para suprir o gap de sustentabilidade do 5G, embebendo nele a matriz de valores que constituem a identidade digital europeia, definindo uma referência importante no próximo ciclo de globalização.