CARLOS ZORRINHO

AS SUCURSAIS DA BOLA  – Quando esta crónica for publicada já terão terminado as ligas de futebol profissional em Portugal, com vencedores e vencidos, e estará a arrancar o jogo de nervos que sempre se associa à constituição dos planteis para a época seguinte. No entanto, quando escrevo este texto ainda há muita coisa em jogo e muita suspeição no ar relativa à época em curso de 2018/2019, que acabou agora de entrar no momento das grandes decisões. Sou um intenso apreciador de futebol. Vivo o jogo com emoção e com opção, mas entristece-me o clima de desconfiança que o vai minando no nosso país e para além dele. Num contexto de agressivas acusações mútuas entre os principais emblemas em Portugal, escrevi nas redes socais que “o problema do futebol em Portugal são as sucursais, porque no final de um jogo entre uma equipa que tem um ascendente de tutela desportiva sobre outra, fica sempre uma certa desconfiança no ar”. As reações não se fizeram esperar. O tema futebol desperta sempre emoções fortes e este exemplo não foi exceção. Cada clube enfiou o chapéu que melhor lhe serviu e assumiu que a frase era para o outro, ou quando era para si, considerou-a inapropriada. O futebol profissional movimenta muito dinheiro e muita gente. A jogada passível de múltiplas interpretações, a fragilidade do espírito da lei quando visto à luz duma perceção toldada pela condição de adepto, tudo isso faz parte do espetáculo e é impossível de erradicar, exceto se passarmos a disputar todos os jogos numa consola de vídeo, devidamente certificada. Ou seja, exceto se matarmos o maior espetáculo do mundo. 

Urge por isso tomar algumas medidas para salvaguardar a credibilidade do jogo. Por exemplo, não faz sentido jogarem na mesma liga jogadores emprestados por equipas que concorrem na mesma competição. Se os grandes clubes têm que gerir os seus planteis com empréstimos, façam-no noutras ligas nacionais ou internacionais e não naquelas em que são diretamente interessados. O mesmo se diga, por maioria de razão, em relação a equipas técnicas, conselheiros, olheiros ou consultores. 

Um outro tema em aceso debate é o da imparcialidade dos VAR (Video Assistant Referees). Armados da mais sofisticada tecnologia, a probabilidade de erro dos VAR é minimalista. Existem, contudo, variáveis como o ângulo de análise, a intensidade do que ocorre e mesmo a pressão implícita por ser conhecido o seu nome e histórico, que humanizam o VAR e o tornam alvo fácil de todas as críticas. 

A UEFA (ou a FIFA) deveria disponibilizar uma rede de centros de assistência supranacional, numa linha similar ao que é feito com a disponibilização de controladores aéreos para evitar riscos e acidentes nas rotas aéreas. O VAR de cada jogo seria um técnico puro e duro, escalado aleatoriamente, de nacionalidade incerta e nome incógnito. Partilho estas duas ideias como podia partilhar muitas mais. A cronometragem do jogo útil por exemplo. Gosto demais de futebol, que pratiquei com entusiasmo quando era mais novo e sigo com emoção agora, para ficar impávido e sereno a assistir à sua erosão como espetáculo de multidões.