A BATALHA PELA LIBERDADE
Na transição do milénio, ao mesmo tempo que se desenvolvia uma nova ordem global baseada sobretudo nas relações comerciais, com o eco de análises extremas como as que prognosticavam o fim da história e a prevalência de um consenso liberal, conservador ou progressista, na governação das sociedades, o politicamente correto tomou conta do cenário político e os partidos que lhe deram voz alternaram o exercício do poder. Esta realidade não existe mais. São muito complexas as razões que levaram ao regresso em força do confronto político e da radicalização de opções e propostas. A maior delas, na minha perspetiva, foi a iniquidade crescente gerada por uma globalização sem regras, que conduziu ao aprofundar das desigualdades entre países, territórios e sobretudo, com maior ou menor profundidade, no tecido social de vilas, cidades, países e continentes. O regresso em força da política para combater as desigualdades brutais no acesso aos rendimentos é uma boa notícia. A forma como os populistas radicais ganharam vantagem nesse combate político, usando a manipulação e distorcendo as regras democráticas, exige que os democratas moderados sejam capazes de os combater sem moderação, respondendo de forma convincente aos anseios das pessoas e dando respostas fortes para inverter o sentimento de injustiça que perpassa pelo mundo. Propostas razoáveis, radicalmente democráticas e capazes de gerar consensos sociais continuam a ser necessárias como pilar essencial das sociedades modernas. Razoabilidade não pode significar, no entanto, anemia de comunicação e de ação. Quanto mais moderadas, ponderadas e centrais são as causas para o futuro da sociedade, mais importante é que sejam comunicadas e sobretudo concretizadas sem moderação para poderem ombrear com as agendas populistas. A globalização é fundamental, mas tem que ter valores embebidos e contribuir para reduzir desigualdades em vez de as aprofundar. A transição energética é uma grande oportunidade de reconfiguração social, que os Verdes, aliás, têm vindo a aproveitar um pouco por toda a Europa, crescendo nas suas votações com propostas próximas das pessoas, progressistas e europeístas. A revolução digital é outra vereda de mudança onde as visões moderadas podem fazer a diferença se forem concretizadas tendo as pessoas e as suas necessidades como motor de evolução, concretização e comunicação. A história não acabou e a política não morreu. Os populistas tomaram a política nos dentes para fazer uma história sem grandeza. É tempo de reunir as forças dos que querem uma transformação sustentável, justa e humanista da sociedade, para, sem moderação, travarem e vencerem a batalha da próxima década. A batalha pela liberdade.