CARLOS ZORRINHO

COPYRIGHT

A propósito da não concessão de tolerância de ponto aos funcionários públicos na terça-feira de Carnaval, e das razões enunciadas para isso, muito há a refletir e a ponderar. É o que faço seguidamente neste texto, escrito antes do dia referido e que será editado já depois de podermos avaliar a realidade dos factos. O Governo fundamentou a decisão de não conceder tolerância de ponto aos funcionários públicos no Carnaval em duas razões fundamentais: em primeiro lugar, na importância de aumentar a produtividade da economia portuguesa e, em segundo lugar, na imagem de empenho “forçado” que foi decidido encenar em pleno período de visita da troika para avaliação do Programa de Assistência Económica e Financeira a Portugal. Aumentar a produtividade é necessário. No entanto, na maioria dos setores, dentro e fora da Administração Pública, o aumento da produtividade depende mais dos métodos, dos processos e dos produtos e serviços prestados, do que da quantidade de horas dedicada ao trabalho. A qualidade vale mais do que a quantidade. A desmotivação ou a desqualificação são os pecados capitais da nossa competitividade e da nossa produtividade. Trabalhamos em média mais horas que os nossos parceiros europeus. A questão não está em trabalhar mais, mas em trabalhar melhor. A questão da imagem dada aos elementos da troika parece uma questão de somenos, mas não é. Pressupõe que o caminho para Portugal é copiar a Alemanha ou os outros países nórdicos, com valências, tradições e identidades muito diferentes de Portugal e dos outros países do Sul da Europa. A Alemanha e os países nórdicos têm o seu próprio copyright. Portugal também. Queremos pagar os direitos e o preço de usar uma marca alheia, ou queremos valorizar a nossa marca? Queremos ser uma fotocópia contrariada e de má qualidade dum modelo alheio e inadequado, ou queremos ser um original com orgulho, capaz de se afirmar globalmente pela sua especificidade e pelo aproveitamento das vantagens de localização, relacionamento e conhecimento adquirido? Ser um bom original exige muito empenho e muito trabalho. Optar pela diferença é o oposto da desistência e da subserviência. Mas esse é um trabalho que motiva e diferencia. Um trabalho que se inspira na cultura, na inovação e até no lazer. Um trabalho com sentido e com estratégia, que os feriados não atrapalham porque os objetivos não se medem em horas de trabalho mas em valor acrescentado, exportações e redução de importações. Eu sei que nem sempre é assim. Que um país tem que trabalhar nalguns setores com o copyright alheio. Mas se essa for a matriz da sua economia, então torna-se um país descartável e irrelevante. Um país de máscara, em nome da “máscara” que lhe querem tirar à força.