CARLOS ZORRINHO

ESTRATÉGIA UE/ÁFRICA

UMA PARCERIA DE REFERÊNCIA

A afirmação de uma estratégia global é uma das prioridades para a União Europeia e uma condição-chave para que a globalização da economia e dos fluxos de pessoas, bens, serviços e capitais se desenvolva de acordo com regras justas, compatíveis com a sustentabilidade do planeta e a dignidade de quem o habita. Líder no desenho e na concretização do Acordo de Paris para o desenvolvimento sustentável e para o combate ao aquecimento global, a projeção da visão humanista que informa os valores europeus não pode ser entendida, como alguns pretendem, como uma forma de imposição “supremacista”, porque esses valores podem e devem ser interpretados, respeitando a identidade e a cultura das diversas comunidades e territórios. O final deste ano é rico no diálogo político entre a União Europeia e África. O Parlamento Europeu organiza uma cimeira de alto nível sobre as diferentes áreas de cooperação, antecedendo a realização da cimeira UE/África em Abidjan, na Costa do Marfim, e a cimeira parlamentar UE – África, Caraíbas e Pacífico agendada para Port-au-Prince, no Haiti. Tal como a negociação de outras parcerias estratégicas, como a parceria com o Mercosul sobre a qual já aqui escrevi, o revigoramento da parceria UE/África constitui uma excelente oportunidade para definir grandes apostas com reflexo nos planos de cooperação pós-Cotonou, permitindo atingir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e cumprir as metas do Acordo de Paris. As estratégias de cooperação e os acordos dela decorrentes são uma pedra de toque para que os valores prevalecentes na globalização sejam justos, adequados e capazes de responder às grandes questões dos nossos dias, designadamente às desigualdades, às alterações climáticas, às migrações forçadas e aos desafios da segurança. Os acordos comerciais, só por si, são insuficientes para atingir estes objetivos. Têm que ser integrados em parcerias de associação, que, inspiradas por uma visão partilhada sobre o futuro, permitam a emergência de instituições fortes, democráticas e respeitadoras dos direitos humanos. É necessário também reforçar as competências, as qualificações e os direitos dos indivíduos. Participarei de forma ativa, como membro da delegação do Parlamento Europeu, na assembleia parlamentar UE/ACP nos debates que em torno deste tema se desenrolarão nos próximos meses. A minha aposta centrar-se-á em três vetores que considero chave para tornar a parceria UE/África uma parceria de referência.  A cooperação para a qualificação das populações, em particular das mais jovens, a transição energética e a disseminação do acesso das populações a fontes de energias limpas e a aposta nas novas redes digitais, como veículos de participação, e acesso a serviços de interesse comum são prioridades fundamentais para consolidar uma parceria para o futuro, que comece a dar frutos desde já.