INOVAÇÃO DIGITAL
A União Europeia vive um tempo de impasse político e incerteza económica. Debaixo da crosta visível, existem, no entanto, agendas que estão a fervilhar, como é o caso da agenda digital (União Digital) e da agenda da energia (União da Energia). São dossiers complexos, com linhas de intervenção que se entrecruzam, e que precisam por isso de visões fortes e participação alargada para poderem ser concretizados. A União Digital, que tenho acompanhado de perto e na qual fui já relator do programa de interoperabilidade para as administrações públicas, empresas e cidadãos e do regulamento sobre a portabilidade transfronteiriça de serviços e conteúdos online e acompanho agora como relator sombra o Plano de Ação para o Governo Eletrónico, é um bom exemplo do que antes referi. Nesta agenda é preciso garantir um melhor acesso dos consumidores e das empresas aos serviços e bens digitais em toda a União Europeia, ao mesmo tempo que é preciso garantir condições para que esses bens e serviços sejam globalmente competitivos, promovendo o crescimento e o emprego e respeitando os valores e os princípios que informam o projeto europeu. Fazer isto implica inovar de forma sustentada e integrada. Uma inovação que tem como chave o acesso e a partilha de dados, garantindo a privacidade dos cidadãos, os direitos dos criadores, a livre concorrência das empresas e a melhoria da qualidade dos serviços públicos. Numa conferência sobre como acelerar a competitividade tecnológica europeia, promovida em Bruxelas pela Science and Business, coube-me refletir sobre como acelerar a inovação digital. Partilho neste texto algumas das ideias que apresentei nessa conferência. Em primeiro lugar, o acesso aos dados é crucial. Alguns dizem que os dados são o petróleo do novo ciclo digital. Outros dizem que é o sangue. Eu prefiro esta segunda ideia. Os dados são “orgânicos” na inovação digital e nas soluções. Têm que ser cuidados com grande atenção, não podem ser contaminados nem podem ser permitidos usos indevidos ou hemorragias. Em segundo lugar, é necessário um código de conduta digital que inclua os valores que nos são próprios. Construir uma identidade digital europeia pode parecer excessivo, mas é uma oportunidade a considerar. Em terceiro lugar, é preciso quebrar as barreiras que reduzem mercados para os inovadores digitais, sejam start ups ou empresas em adaptação aos novos desafios. Finalmente, tendo uma geração de líderes digitais, é necessário aprofundar as competências e os conhecimentos de um número o mais alargado possível de europeus, por razões de justiça e de dignidade, mas também para dar massa crítica aos mercados públicos e privados. A inovação digital tem sido muito focada na virtualização e capitalização bolsista das empresas estrela. Quase sempre esse sucesso se baseou na utilidade dos produtos desenvolvidos. A inovação digital na Europa tem que ir um pouco mais longe para se diferenciar. Ser inspirada pelas necessidades dos cidadãos enquanto comunidade e não apenas como mercado. Eis a diferença que a nossa identidade digital pode fazer.