CARLOS ZORRINHO

ZORRINHOLIDERAR A NOVA GERAÇÃO DA MOBILIDADE

A Comissão de Inquérito às Emissões no Setor Automóvel (EMIS), criada pelo Parlamento Europeu, e que integro como membro efetivo, viu aprovado o seu relatório intercalar na sessão plenária de setembro. Consolidado o quadro de avaliação, as audições prosseguirão por mais um semestre, até ser formulado e aprovado o relatório final. Embora as audições sejam públicas, muitos dos factos que foram e serão apurados decorrem de uma aturada análise documental, visitas e perguntas escritas. As reflexões que aqui vou partilhar são inspiradas no muito que li, vi e ouvi como membro da EMIS, mas não pretendem antecipar qualquer conclusão específica. O indício de práticas manipuladoras gerou uma quebra de confiança no sistema europeu de medição de emissões, em particular nos motores a diesel. Foi possível chegar a uma situação como essa devido a uma série de omissões, cuja gravidade e responsabilidade está em processo de apuramento. Depois desta constatação, as instituições europeias e os Estados-membros e a indústria terão que sair da sua zona de conforto e assumir as responsabilidades de efetiva fiscalização, divulgando informação transparente e credível aos consumidores e tirando partido do conhecimento existente no sistema científico europeu e em particular no Centro Comum de Investigação (CCI – ISPRA – Itália). As motivações para os procedimentos antes referidos foram económicas e não tecnológicas. Existem tecnologias de fabrico e medição de emissões que garantem que as regras podem ser cumpridas, mesmo em condições de condução reais e com motores a diesel. O custo é, no entanto, elevado e pode colocar em causa a competitividade sobretudo em segmentos mais baixos do mercado.  Abre-se por isso uma enorme oportunidade para o desenvolvimento de tecnologias que permitam uma mobilidade mais inteligente, sustentável e limpa. As novas tecnologias de informação, associadas à mobilidade elétrica e ao desenvolvimento continuado das energias renováveis, criarão uma nova geração na mobilidade, a qual a União Europeia tem toda a vantagem e capacidade para liderar. Recentemente, como relator do parecer da Comissão de Ambiente do Parlamento Europeu sobre Estratégia Europeia do Gás Natural Liquefeito, consegui ver aprovada uma proposta para reforçar o abastecimento de navios e transportes pesados com este combustível mais limpo e para que se encontre um modelo de negócio e financiamento que permita instalar um centro de abastecimento no arquipélago dos Açores. A mobilidade inteligente e limpa na terra, no ar e no mar lidera-se com pequenos passos na transição tecnológica. Pequenos passos que, se forem sólidos, constituirão grandes passos para a competitividade da economia e para a sustentabilidade do planeta.