CARLOS ZORRINHO

ZORRINHOCOMO CRESCER?

Desde a adoção da moeda única que a Zona Euro tem tido dificuldades de crescimento económico, induzindo dificuldades acrescidas em muitos países para cumprirem as metas do Tratado Orçamental e da Estratégia Europa 2020. A explicação deste fenómeno é complexa. Por um lado o crescimento endógeno tem sido assimétrico, com o centro e em particular a Alemanha a canibalizar parte do crescimento que poderia e deveria ser distribuído por toda a zona económica e monetária. Por outro lado a economia global tem tido movimentos de reconfiguração que não têm beneficiado a Europa nem a sua estrutura competitiva. Finalmente, e salientando apenas alguns dos fatores em jogo, os novos modelos industriais, baseados numa filosofia colaborativa e no suporte nas novas redes e tecnologias de informação, são intensivos em capital mas não em trabalho, gerando desequilíbrios no emprego e na sociedade em geral.  Face a este diagnóstico a melhor resposta é a ação. O Governo português lançou mãos à obra estruturando um robusto Programa Nacional de Reformas e lançando plataformas para a reconfiguração industrial (Indústria 4.0) e o empreendedorismo (Start Up Portugal). A Comissão do Parlamento Europeu para a Indústria, a Investigação e a Energia (ITRE), que integro como membro efetivo, fez aprovar recentemente um relatório de iniciativa em que insta a Comissão Europeia a apresentar uma comunicação que lance as bases de uma estratégia coerente para reindustrializar a Europa, tendo em conta os novos desafios da digitalização, da transição energética e da concorrência global. Os eurodeputados pedem que seja proposta uma política industrial de nova geração, que não devendo substituir os atores económicos e empresariais, permita fazer confluir esforços, dinâmicas e recursos. Só assim a economia europeia poderá competir à escala global e os países que a integram podem voltar a crescer, a criar oportunidades de trabalho e a cumprir os legítimos anseios de realização dos seus cidadãos. Na resolução referida, que se foca em particular no setor da ferrovia, são esboçadas algumas ideias que os parlamentares gostariam de ver refletidas numa nova política industrial. O apoio aos clusters e às plataformas de eficiência coletiva, a inclusão do novo quadro de competências nos planos de formação, a capacitação das pequenas e médias empresas, start ups e spin offs, designadamente fomentando o acesso aos mercados externos e tornando mais transparente e acessível o mercado interno e a procura pública, a negociação de tratados internacionais de livre comércio que salvaguardem a valorização da dimensão social e ambiental da economia e a utilização em sinergia dos instrumentos de apoio ao investimento são alguns exemplos das ideias sugeridas. Ideias para uma visão mobilizadora que será, em última análise, a base de uma estratégia europeia para a competitividade e a renovação na criação de oportunidades de emprego. O caminho para voltar a crescer.