POLÍTICA 4.0
Os desenvolvimentos ocorridos no mundo das tecnologias da informação e da comunicação não significam apenas uma revolução tecnológica. Eles estão na base de enormes mudanças sociais e da alteração de muitos modelos de negócio. Milhões de empregos serão destruídos e outros tantos (as opiniões quantitativas divergem) serão criados, não necessariamente para as mesmas pessoas nem nos mesmos territórios. Ao mesmo tempo, processos tradicionais enraizados de produção, fornecimento e consumo de bens e serviços cairão em desuso e serão substituídos por modelos mais flexíveis, de que a controvérsia conhecida entre os serviços de táxi e os serviços oferecidos por plataformas de disponibilização de serviços de transporte constitui um exemplo. No contexto do desenvolvimento da agenda digital europeia, que visa no plano económico criar um mercado único digital e no plano político uma “união digital”, o Parlamento Europeu produziu recentemente através da sua Comissão para a Indústria, Investigação e Energia (ITRE) que integro, um estudo sobre o impacto da implementação da designada “Indústria 4.0” e dos desafios que esse processo coloca às políticas públicas. Em síntese, o estudo caracteriza o novo ambiente de negócios e as condições para que o “modelo europeu” possa ser nele bem-sucedido sem perder aquilo que (ainda) o diferencia no plano da inclusão social, da diversidade empresarial e da proteção do ambiente. O conceito de “Indústria 4.0” evidencia a emergência de modelos de negócio colaborativos, estruturados em cadeias de valor que podem ser de múltiplos formatos, com menos barreiras espaciais e apoiadas na “internet das coisas” e nas redes 5G, cujas potencialidades vão permitir montar de forma flexível e em cada momento sistemas produtivos e logísticos por medida nas diversas plataformas territoriais ou supraterritoriais. Este conceito, popularizado na forma de produzir bens e serviços rapidamente, contaminará outras dimensões da vida quotidiana. A economia social, os serviços de lazer, os modelos de aprendizagem, são exemplos de sistemas que tenderão a alinhar pelo novo paradigma colaborativo e por medida. Neste quadro de transformação é muito importante o papel desempenhado pelas políticas públicas. O novo patamar da sociedade digital não marca o fim da política nem o fim das ideologias. As ideologias têm que dar resposta aos novos desafios. As políticas têm que se adaptar aos novos quadros de aplicação. A forma de fazer política e as suas prioridades também terão que evoluir. Terão que ser mais colaborativas. No plano dos valores em que acredito, terão que garantir a equidade no “admirável” mundo novo. Garantir a formação para a “cidadania digital” e para as novas oportunidades de negócio, o acesso universal às redes de alto desempenho, a inclusão das Pequenas e Médias Empresas nas cadeias de valor ou a privacidade e a proteção de dados pessoais são alguns exemplos das novas prioridades políticas. Das prioridades da política 4.0 tal como eu a entendo.