CARLOS ZORRINHO

zorrinhoPARIS “C’EST JOLIE”?

Nos primeiros dias de dezembro o mundo terá os olhos postos em Paris, onde se realiza a Cimeira Mundial do Clima (COP21). A tradição de Paris como uma capital da moda é reconhecida. As alterações climáticas no entanto, por muito que alguns o procurem negar, não são uma moda. O problema existe e exige uma resposta à altura. O acordo internacional que se procura fechar em Paris tem como meta limitar o aquecimento global a um valor inferior a 2ºC. Já escrevi neste espaço sobre a revolução tecnológica e organizacional que será necessária para atingir este objetivo e sobre como essa revolução pode constituir uma oportunidade para que a economia global possa crescer e criar emprego de uma forma saudável. Estamos por isso nesta cimeira perante um desafio de duplo ganho (win-win). Podemos ganhar um planeta mais sustentável, menos catástrofes e desastres naturais e um modelo económico e social mais coeso e justo. Mas para que Paris seja mesmo um ponto de mudança é preciso que o acordo alcançado seja ambicioso e vinculativo, com instrumentos de monitorização, de transparência e de responsabilização e contenha os instrumentos adequados para mobilizar toda a comunidade internacional para o seu cumprimento. Na resolução em preparação pelo Parlamento Europeu exorta-se a União Europeia (UE) e as suas instituições a serem exigentes consigo próprias e com os parceiros internacionais. Neste âmbito a concretização da União da Energia, com uma aposta determinada na criação de um mercado único europeu, com interconexões adequadas, baseado nas energias renováveis e no incremento da eficiência energética é um contributo decisivo. A esta aposta acresce a proposta para que a se disponibilize um pacote de financiamento anual equivalente a 100 mil milhões de dólares até 2020, para apoiar esforços de redução de emissões de gases com efeito de estufa e de adaptação às alterações climáticas em países em desenvolvimento. Importantes são ainda as medidas propostas para reativar o mercado do carbono e para tornar mais atrativo o investimento na transição energética, uma das prioridades da estratégia Europa 2020 e dos instrumentos financeiros que lhe estão associados, e também uma prioridade do fundo Juncker para o investimento estratégico. Todos nos recordamos da esperança que foi colocada na conferência do clima realizada em Copenhaga em 2009 (COP9). O facto de se ter realizado em plena crise financeira global contribuiu para que as expectativas saíssem frustradas. O acordo indicativo de Copenhaga ficou muito aquém do que era necessário. Hoje lembramos essa cimeira como o exemplo daquilo que não queremos que se volte a repetir. E Paris? Paris “c’est jolie”! Será a COP21 “jolie” para o futuro do planeta e da economia mundial? Tenho expectativas favoráveis de que isso aconteça. Espero que desta vez aconteça mesmo.