A globalização não está apenas a redistribuir riqueza e poder entre continentes e regiões. Está a aprofundar drasticamente as desigualdades no seio da sociedade global e a enfraquecer princípios de dignidade e sustentabilidade na competição económica. Esta dinâmica entrópica é em larga medida provocada pelo desajustamento entre os três pilares chave da globalização atual. Um deles, a China, funciona como um Império, outro, os Estados Unidos da América, é uma Federação consolidada e o terceiro, a União Europeia, é uma União frágil e em riscos de desagregação. O fortalecimento do projeto europeu não interessa apenas aos europeus e a quem vive na Europa. É importante para disseminar, em todo o globo, regras saudáveis e centradas nas pessoas, que possam ser embebidas nos processos de concorrência e comércio internacional. Não parece no entanto fácil o caminho de finalização da arquitetura institucional da União Europeia, em particular da finalização da União Económica e Monetária (UEM), que constitui a pedra de toque de todo o edifício da cooperação dinâmica e com confiança mútua, no espaço europeu. É caso para aplicar alguma sabedoria popular. Diz o povo que por vezes “temos que escrever direito por linhas tortas”. Do meu ponto de vista, em vez de continuar a dar passos no mesmo lugar, no escorregadio trajeto para a finalização da UEM, a União Europeia tem que apostar noutra “moeda”. Uma moeda com duas faces: a União da Energia por um lado e a União Digital pelo outro. Estas duas agendas, que foram recentemente objeto de comunicações da Comissão Europeia, são essenciais para que a União Europeia possa liderar uma nova aposta de crescimento sustentável, sobretudo se o seu desenho não for meramente definido pelas necessidades do mercado imediato e se tiver em conta as oportunidades de inclusão, inovação e desenvolvimento de novas áreas de negócio e serviços que essas agendas permitem. Se a União Europeia conseguir pôr no terreno um mercado único de energia de nova geração e um mercado único digital que agregue e valorize a sua diversidade de 500 milhões de consumidores, produtores e protagonistas, necessitará de forma natural de completar institucionalmente a União Económica e Monetária e outras políticas comuns no domínio da regulação e do quadro social. Económico e ambiental. Ter-se-á assim escrito direito por linhas tortas, e o futuro poderá voltar a poder ser aquilo que já foi. Um mundo em desenvolvimento, com uma União Europeia ativa na defesa dos valores comuns de paz e humanismo que lhe dão sentido.