No meio da tormenta política e financeira que vai vivendo, e com menos mediatismo que os braços de ferro entre Berlim e os países sob assistência económica e monetária, a União Europeia tem vindo a prosseguir paulatinamente uma política de multiplicação de tratados de livre comércio, o mais importante dos quais é o tratado com os Estados Unidos da América (TTIP), mas em que os tratados com o Canadá, com o Japão e com o Mercosul são também de grande importância. Enquanto membro da Delegação Europa-Mercosul (presidida pelo eurodeputado português Francisco Assis) e vice-presidente da Delegação Europa-Brasil, desloquei-me recentemente ao Paraguai e ao Uruguai. O objetivo da missão foi dar um novo fôlego às negociações entre os países do Mercosul (Argentina, Brasil, Paraguai, Uruguai e Venezuela) e a União Europeia. Num quadro de globalização alargada, que sentido fazem os acordos de livre comércio? A meu ver são uma chave de regulação essencial. A globalização sem regras não apenas está a matar a dimensão social dos sistemas económicos, como tem aumentado de forma brutal as desigualdades entre territórios e dentro de cada território ou país em concreto. Face ao dumping social e ambiental com que as empresas europeias se defrontam, muitos advogam um fechamento nacionalista. Além de redutora do ponto de vista económico, esta visão é egoísta do ponto de vista social. A Europa tem que tentar fazer valer o seu modelo humanista e sustentável como referência para a globalização. É este o espírito com que a meu ver a União Europeia deve multiplicar os acordos de livre comércio, embebendo neles as regras sociais e ambientais de que o mundo precisa e de que os europeus são paladinos. Alguns temem que estes acordos subordinem a Europa a outras conceções, designadamente às conceções liberais e financistas, em que as pessoas pouco ou nada contam para a equação concorrencial. Não nego esse risco. Sem negociação, ele é total. Com negociação, pode ser no mínimo mitigado e servir de patamar para um outro ciclo de globalização regulada e sustentável. No Paraguai e no Uruguai esta mensagem teve um eco claro. No Brasil é preciso gritar muito alto para que alguma coisa se oiça na conflitualidade pós-eleitoral, enquanto a Argentina já só pensa nas eleições presidenciais que se aproximam. É por vezes no meio da tormenta que um raio de sol pode fazer a diferença. Se o Mercosul não cumprir a promessa feita, não será por falta de esforço e empenho do Parlamento Europeu e dentro dele dos eurodeputados portugueses. O Brasil, que lidera este semestre o espaço de integração em análise, pode ter o golpe de asa de se antecipar ao acordo Europa/USA e ganhar um novo fôlego na cena internacional, acompanhado pelos seus parceiros no Mercosul. Será possível? Da parte do Parlamento Europeu estamos a fazer o trabalho necessário. A esperança é a última a morrer quando se trabalha convictamente para que ela frutifique.