Dois mil e quinze começou na Europa e no mundo sob uma nuvem negra muito forte, provocada pelos atentados terroristas contra a liberdade de expressão, ocorridos a 7 de janeiro em Paris. Esses atentados tiveram uma forte resposta de cidadania e também uma resposta política com grande visibilidade. Tal como aconteceu na sequência de outros ataques perpetrados em Nova Iorque, Madrid e Londres, o grande desafio agora é conseguir melhorar as ações preventivas, sem pôr em causa a liberdade e a privacidade dos cidadãos que vivem nos territórios atacados, não dando assim aos ataques as consequências alargadas de fragmentação e corrosão social visadas pelos seus autores. Para além da resposta dos cidadãos e da resposta política, estes ataques exigem também uma resposta económica. Os dois grandes pilares do impulso para o crescimento e o emprego na União Europeia, ou seja, a Agenda Digital e a União para a Energia, têm que ser desenhados e implantados, visando também reduzir a exposição da União Europeia aos fanatismos que a podem assolar nos próximos anos. Vejamos em primeiro lugar o tema energético. É reconhecido que a falta de autonomia de abastecimento é um dos maiores problemas de segurança da União Europeia. Ao mesmo tempo, a disputa por fontes alternativas e por preços competitivos fragiliza o mercado interno e dificulta as tomadas de posição políticas fortes e agregadas da União. Sendo assim, a segurança tem que ser um dos pilares da União da Energia, num nível similar ao papel nele desempenhado pela nova industrialização, pelo aproveitamento de recursos próprios e pelo combate às alterações climáticas. Mais complexo poderá ser o papel da Agenda Digital. A Agenda Digital, além de impulsionar a produtividade e a competitividade da economia europeia, deverá conciliar dois domínios críticos: a cibersegurança e a vigilância de movimentos suspeitos, e o direito à privacidade e à proteção de dados de carácter pessoal. Para além desta interação defensiva, os dois pilares do desenvolvimento económico europeu que identificamos neste texto, deverão ter ainda um papel chave no crescimento sustentável, na criação de emprego e no regresso à União Europeia de um espírito positivo, traduzido em melhores condições de vida para as pessoas e em desafios mobilizadores para os seus povos e em particular para as gerações mais jovens. Um novo modelo económico, baseado na transição energética e na transição digital, é o melhor antídoto contra o desfalecer de vontades em que é mais fácil desenvolver os germes que visam confrontar e destruir a identidade humanista e democrática da Europa. Como escrevi antes, a ferida que os ataques terroristas de 7 de janeiro quiseram dilacerar, ainda mais, não é de raiz económica. Mas uma economia forte, solidária e amiga da sustentabilidade terá um efeito importante, quer na mitigação da dor, quer na prevenção de futuros episódios.