A construção europeia vai abanando por todos os lados, embora manifestando ao mesmo tempo uma resiliência surpreendente e por vezes inesperada. Esta turbulência decorre de existirem nela várias arquiteturas inacabadas. A arquitetura da união económica e monetária, a arquitetura do mercado livre financeiro ou do mercado livre da energia, a arquitetura da estratégia de crescimento e emprego ou da estratégia de competitividade global. Recém-chegado ao Parlamento Europeu, tive o gosto de me ser atribuído um relatório que talvez não seja sonante mas que é uma das chaves da arquitetura da União Europeia – O Relatório sobre a Decisão do Parlamento Europeu e do Conselho que institui um programa sobre soluções de interoperabilidade para as administrações públicas, as empresas e os cidadãos. Este programa vai mobilizar 130 milhões de euros até 2020. De facto, a volatilidade das arquiteturas europeias decorre da ausência de bons alicerces tecnológicos e de bons alicerces políticos. Por melhor que seja a interoperabilidade dos dados e da informação, se não existir um sentido convergente sobre os objetivos a atingir com esses dados e com essa informação, o risco é partilhar o ruído em grandes quantidades e asfixiar ainda mais os processos de decisão coletiva. Por outro lado, por mais eloquentes e ambiciosas que sejam as visões arquitetónicas para o futuro da Europa, se depois não funcionarem as conexões, os suportes de informação e os repositórios de experiência e de transparência, as visões ficam presas na superestrutura da comunicação e pouco ou nada fazem acontecer no terreno concreto. Existem na Europa excelentes práticas de integração de informação ao serviço dos cidadãos, das empresas e da qualidade dos serviços públicos. A Estónia é considerada neste plano um caso de sucesso ímpar, só comparável a Singapura, mas com mais transparência e garantias de privacidade e respeito pelos cidadãos. Portugal, não tendo completado a sua arquitetura de interoperabilidade e tendo ainda zonas difíceis em setores chave, em que a Saúde será o mais relevante (para não falar da demolição recente do sistema de interoperabilidade da Justiça), desenvolveu também ilhas de excelência que nos orgulham e em que a “empresa na hora” constitui um exemplo emblemático e fortemente simbólico. Sendo um professor de Gestão que se especializou em sistemas de informação e depois foi migrando para a complexidade, com várias aplicações práticas no plano empresarial, pedagógico, científico e político, este primeiro relatório constitui uma oportunidade para recordar, como faço aqui, que na era da informação em nuvem, sem bons alicerces de acesso, tratamento e utilização dessa informação, nenhuma arquitetura se aguenta. Nem mesmo uma arquitetura com mais de 50 anos, como a União Europeia.