CARLOS ZORRINHO

ZORRINHOUM FUTURO PELA ENERGIA

 

A crise da Crimeia veio colocar de novo na agenda a questão da autonomia energética da União Europeia e da sua garantia de abastecimento. Ao contrário da prognose feita por muitos especialistas, não tem sido a água, mas antes a energia, o grande fator de conflitualidade no mundo neste início do século XXI. Basta ter em conta as motivações económicas do conflito no Iraque e todos os seus efeitos colaterais. O modelo energético será determinante na consolidação da nova ordem mundial e na matriz de organização das sociedades do futuro. O atual modelo energético cria enormes desigualdades e dependências, além de ser fortemente agressivo para o ambiente e perturbador do bem-estar das populações. Na minha perspetiva, um dos mais potentes indutores dum novo período de prosperidade global será a alteração do modelo energético, incluindo o reforço da produção elétrica de proximidade baseada em recursos endógenos e renováveis e a aposta na mobilidade elétrica, acompanhado de uma redução progressiva da dependência dos combustíveis fósseis. Depois do seu falhanço político na Cimeira do Clima de Copenhaga (COP 09), em que as metas de emissões foram estabelecidas de forma indicativa fazendo implodir a regulação através do mercado mundial do carbono, a Europa tem agora de novo uma oportunidade de liderar uma revolução inteligente, verde e inclusiva. Para isso é determinante um investimento massivo nas redes transeuropeias de energia, nas tecnologias de produção de energia renovável de proximidade e no desenvolvimento e disseminação dos veículos elétricos. Nesta revolução emergente, Portugal, não obstante o retrocesso dos últimos três anos, continua bem colocado para ser um laboratório vivo onde se pode testar e ajustar o novo modelo energético e o novo modelo de crescimento sustentável para a Europa e para o mundo. Fomos líderes e pioneiros e temos credibilidade e tecnologia. Neste domínio o nosso único deficit tem sido de lucidez e vontade política. O novo ciclo de recursos de financiamento comunitário e os sinais positivos que finalmente emergem do responsável governamental pela energia permitem acreditar que a inovação limpa pode ser a base de uma nova reindustrialização do nosso país, que crie riqueza e emprego qualificado e seja em última análise a luz ao fundo do túnel de que tanto precisamos, para iluminar a esperança e concretizar o desenvolvimento. O futuro é o resultado de muitas vontades, escolhas e ocorrências. Num tempo de incerteza, é sempre complexo antecipar o que pode acontecer. Tenho no entanto a forte convicção de que pela energia poderemos ambicionar um futuro melhor.