CARLOS ZORRINHO

ZORRINHOPORTUGAL EUROPEU

A adesão de Portugal à então Comunidade Económica Europeia (CEE) foi uma decisão estratégica de largo alcance, que visava consolidar a matriz democrática que emergiu da Revolução de Abril, ao mesmo tempo que nos ancorava num espaço comum que nos abria a possibilidade de desenvolver com credibilidade a nossa natureza de país rede e nação global. No 40.º aniversário da Revolução de Abril, o país deve uma homenagem orgulhosa aos que a tornaram possível e aos que a consolidaram, em particular a Mário Soares e Medeiros Ferreira, grandes arquitetos da integração europeia de Portugal. Não creio que alguma vez tenha passado pela cabeça dos nossos negociadores a triste figura de submissão e protetorado em que vivemos nos últimos três anos, com aparente gáudio da coligação governamental, aninhada numa nova combinação política que Ulrich Beck caraterizou como “um socialismo de Estado para a banca e os ricos, e um neoliberalismo para a classe média e para os pobres”. Tal como muitos alemães vão tendo a lucidez de dizer que a Alemanha ganha mais em ser uma Alemanha Europeia do que em forçar uma Europa Alemã, também Portugal, não podendo sequer ambicionar em construir uma Europa Portuguesa, deve assumir o seu caráter de País Europeu e não de país feudalizado a qualquer potência, seja ela europeia ou não. E o que significa ser um País Europeu? Significa ter voz ativa nas decisões da União, usando para isso, quando necessário for, as vantagens que decorrem de sermos também parte de outras redes culturais e económicas. Não é por isso aceitável distinguir a agenda interna da agenda europeia e da agenda global do país. Mesmo a agenda do empobrecimento, que nos tem feito definhar, só tem sido possível com políticas internas toleradas porque escoradas numa potencial obrigação externa e no medo das sanções decorrentes de um incumprimento. Da mesma forma, a agenda do crescimento para ser credível tem que englobar estes patamares: um novo posicionamento na economia global, uma nova atitude negocial no quadro europeu e uma nova aposta nos fatores de modernidade no plano interno. A avaliação das propostas políticas nas próximas eleições europeias não pode deixar de ponderar esta tripla visão e a sua coerência interna. Os caminhos para retomar o progresso sustentável não são todos iguais. Alguns são, aliás, como demonstra a governação em curso, meros amontoados de palavras ocas sem aderência à realidade. Quanto mais as pessoas votarem em palavras em vez de escolherem as boas práticas e valores fortes, mais se enfraquecerá a cidadania, que tem que voltar a ser o alicerce da União Europeia.