CARLOS ZORRINHO

TODO O TERRENO

 A       crise económica e financeira e as guinadas políticas na sua abordagem, primeiro com uma aceleração a mando das instituições europeias e depois com uma travagem brusca ordenada pela troika, colocaram a sociedade portuguesa fora dos carris, em completa derrapagem e perigo de implosão contra os limites mínimos da dignidade na vida das pessoas. Deste quadro de emergência nacional deve-se retirar uma conclusão óbvia. Equilibrar o nosso modelo de vida em sociedade já não é uma questão de mudar a agulha ou de fazer marcha-atrás no percurso feito. É preciso desenhar outra rota, encontrar respostas inovadoras e vencer as adversidades que são fruto de um tempo difícil e de uma governação inapta para lhe fazer frente.Esta alternativa terá naturalmente como grande motor representativo o Partido Socialista, mas precisa de nascer de uma participação alargada das pessoas, conjugando novas e velhas formas de participação e inclusão política.A forma como um programa de governo se constrói é um sinal da sua robustez e sobretudo da sua capacidade de ser executado, já que em larga medida, ainda que com políticas públicas favoráveis, são os autores dos programas os fiéis depositários da chave da sua concretização.O Governo em funções foi eleito com base em meia dúzia de compromissos que não cumpriu nem nunca teve a intenção de cumprir, mas que funcionaram como cortina de fumo para uma narrativa de desmontagem do Estado Social e da sociedade progressista e democrática, que só os mais preparados politicamente interpretaram e denunciaram.Essa esperteza, ou competência em marketing político e em dissimulação, levou ao grau zero a confiança dos eleitores nos partidos políticos. Uma constatação que só aumenta e muito a responsabilidade da construção e da aplicação da alternativa que lhe seguirá.  Mais um falhanço e uma desilusão dos eleitores e a democracia pode ficar em perigo. O PS mais uma vez, como aconteceu tantas outras vezes na ainda jovem democracia portuguesa, não tem margem de manobra para falhar. A minha convicção é que não falhará. Essa é a minha convicção e será o meu empenho nos próximos meses.  Ajudar a construir um programa que responda aos problemas das pessoas e com isso resolver as equações macroeconómicas é um desafio aliciante. Um desafio de risco importante para Portugal mas também para a Europa e para o Mundo. Olhar as coisas de outro modo. Colocar as pessoas no centro da ação política. Tornar a economia instrumental. Mobilizar todos para agir. Fazer acontecer.  Dizer é fácil. Fazer não é. Por isso mesmo precisamos de todos, autores e protagonistas em todo o terreno.