Diga-se o que se disser, o ano letivo arrancou mal em Portugal. Arrancou mal nas universidades e nos politécnicos e arrancou muito mal no ensino básico e secundário. No momento em que escrevo este texto há milhares de alunos ainda sem aulas e milhares de professores por colocar. Os agrupamentos foram desenhados sem racionalidade pedagógica e algumas turmas têm dimensões e composições que confrontam todas as regras e condições exigíveis para uma boa aprendizagem.Num contexto caótico o ruído sobrepõe-se à serenidade. É normal. Os professores, as famílias e os alunos sentem-se perdidos. O Governo procura justificar-se. Todos têm uma parte da razão mas o resultado é profundamente negativo. Não tenho dúvidas que os indicadores de sucesso escolar, de abandono e de desvalorização do conhecimento refletirão a fraqueza ou a cumplicidade de Nuno Crato perante a política de desinvestimento na escola pública. O tema da Educação em Portugal exige um debate num patamar mais elevado de desenho da nossa vocação e do nosso desígnio como país. Só o saber focado nos pode colocar no centro dos processos de desenvolvimento. Abandonar a prioridade dada à qualificação e à formação realça a dimensão geográfica periférica do nosso território. Condena-nos à irrelevância, ao ostracismo e à pequenez.Se definirmos a nossa missão como nação rede, interligada, cosmopolita, multicultural, inovadora e tolerante e se conseguirmos uma forte adesão a esta visão agregadora, então teremos uma magna carta que permitirá ajustar interesses, valorizar contributos e organizar recursos.Portugal precisa de fazer com pragmatismo e determinação um debate sobre o que quer ser no mundo do século XXI. Daí decorrerão as prioridades das várias políticas públicas e os sinais necessários para dar massa crítica e sinergia às decisões da sociedade civil.O Plano Tecnológico e a sua aposta no conhecimento, na tecnologia e na inovação aplicadas a processos produtivos modernos e limpos constituiu uma magna carta para as escolhas públicas e privadas, na segunda metade da primeira década deste século em Portugal.Essa magna carta foi riscada do mapa por este Governo, e no seu lugar nada de visível surgiu. É também por isto que as “reformas” não têm sentido e se têm limitado a dar cobertura a cortes cegos nas funções sociais e nos incentivos à atividade económica.Não haver mapa é bom para quem se aproveita da confusão para aplicar a lei do mais forte. Mas é trágico para o nosso futuro. Não há bom vento para quem não tem rumo certo, ou para quem escolhe os rumos em função de outros desígnios que não a justiça e a felicidade dos povos.