A maturidade é uma forma de serenidade consciente que todos procuramos encontrar e que na maior parte dos casos acabamos por atingir, sem que se apague de todo da nossa vida o perigo de uma recaída inesperada. Mas como podemos ter a consciência de que atingimos a maturidade? Nada na minha formação académica me qualifica a opinar sobre o tema. Só a perceção empírica me permite dizer que o ponto de viragem ocorre quando deixamos que a vida predomine sobre a sua gestão ou seja, quando viver é mais importante do que gerir a vida.Este conceito de maturidade, que se intui a partir da experiência individual e da observação, aplica-se também às comunidades, às empresas, aos territórios, às instituições e aos países.Por exemplo, um político que se centre na gestão da sua carreira política pode ter muito sucesso mas nunca alcançará a maturidade de fazer a política pela política, pelo valor facial do seu contributo para o bem comum e para a polis. Neste sentido arrisco dizer que há excesso de gestão na política moderna. É o que sinto no meu dia a dia de vida cívica.O mesmo se aplica a um país. Quando deixa de ser o que é, para se transformar à imagem de outrem, perde a sua identidade, estabilidade e maturidade e passa a dilacerar-se na conflitualidade e na fragilidade das ideias, das escolhas e das estratégias. Portugal regrediu nos últimos dois anos para uma perigosa infantilidade institucional. Deixámos de ser donos do sonho para nos candidatarmos a sonhar um dia segundo um guião que não escrevemos e no quadro duma base cultural que não partilhamos. Não somos, não controlamos a mudança estratégica e seguimos dóceis a ordem externa. Homens e mulheres talhados na burocracia tecnocrata dos modelos matemáticos, apreendidos nas escolas do Fundo Monetário Internacional, do Banco Central Europeu ou da Comissão Europeia, tomaram as rédeas do país. Gerem pessoas como gerem máquinas. São profundamente imaturos e com a sua imaturidade flagelam milhões de compatriotas.É nestes momentos de imaturidade das sociedades que a maturidade de quem a preserva e pode intervir é mais importante e decisiva. Chegou o momento em que no plano nacional a viragem é inadiável. Não existem soluções mágicas mas existem atitudes e valores que podem e devem fazer a diferença. São soluções de risco, plenas, democráticas, participativas. São soluções maduras.Um povo com quase nove séculos de subsistência é especialista em atirar pela janela das escolhas os vendilhões da sua identidade. Os imaturos, os “trampolineiros” e os avaros. É a hora, como escreveu Pessoa, pleno de 125 anos, de Ser Português.