CARLOS ZORRINHO

PROFETAS NA NOSSA TERRA

 

Portugal é um país global e uma nação rede, criativa, multicultural, habituada à diáspora e a existir pujante dentro e fora do seu território. Pela nossa natureza precisamos muitas vezes de sair do nosso espaço para nos reencontrarmos nele e termos absoluta consciência da sua dimensão e potencial. Entre 15 e 20 de abril tive a grata oportunidade de acompanhar a visita de Estado do Presidente da República à Colômbia e a visita oficial ao Peru. Foram visitas com forte dimensão política, reforçadas pelo momento vivido na região com a instabilidade pós-eleitoral na Venezuela, e com uma componente empresarial de grande significado, envolvendo sete dezenas de grupos empresariais. Ao verificar com alegria a grande valorização feita nesses países do potencial e do conhecimento das nossas empresas, não pude deixar de me interrogar porque é que a maldição de não podermos ser “profetas na nossa terra” nos persegue desde sempre, com raros espaços de lucidez, em que decidimos usar o melhor de nós próprios em benefício da nossa terra e dos nossos concidadãos. Sei que muitos países desenvolvidos mantêm os seus elevados padrões de criação de riqueza através duma criteriosa gestão do seu investimento externo. Antes termos empresas portuguesas a investir determinadamente no exterior do que assistirmos a uma contaminação, para a dimensão externa, da falha anímica que tolhe toda a economia interna. A verdade, no entanto, é que no plano interno ainda não temos a massa crítica sistémica adequada para tirar todo o partido desta diáspora empresarial. É determinante que por cada euro investido lá fora, consigamos investir também pelo menos um euro cá dentro, na qualificação, no contexto e na atratividade do país para o investimento produtivo. Se as dúvidas que ainda pairam sobre o euro dificultam o investimento externo que vai para além da compra de património empresarial já existente, nada impede uma política agressiva de captação e afetação em rede dos recursos internos para que Portugal seja o espaço laboratório das soluções e dos produtos de elevado valor acrescentado que depois coloca no mercado global. Podemos e devemos ser profetas na nossa terra. Não o seremos com uma política de baixos salários, desinvestimento no capital humano e no esforço tecnológico. Se queremos ser exportadores consistentes, não podemos trabalhar com telhados sem telhas ou em terreno escorregadio, pobre e não preparado adequadamente. Só um Portugal forte pode partir e chegar a bom Porto. É o que todos queremos. Partir e regressar no seio de uma nação global, prestigiada, desenvolvida e onde se possa viver com qualidade e justiça social.